Inverteu-se a freguesia. É a terceira vitória consecutiva do Inter em Gre-Nal, quebrando a escrita de uma década e entrando no G6 do Brasileirão com dois jogos a menos. Virtualmente, poderia ser vice-líder.
Houve o típico gol de pebolim do clássico, naquele bate-bate para se confirmar o tento contra de Gustavo Martins a partir de cabeçada de Vitão. Ainda existiu a possibilidade de ampliação do placar colorado com duas bolas seguidas na trave, de Wesley (junto de Alan Patrick, o grande nome do jogo) e de Aránguiz.
Na cigania, o Inter tem se adaptado melhor, com 10 pontos nas últimas cinco rodadas. Se aquele pênalti no último minuto a favor do Vitória não tivesse acontecido, Coudet estaria radiante. O batismo de fogo vem sendo improvisar com redução drástica de opções. É um período de resiliência a se superar, pois falta pouco para a retomada do Beira-Rio, restaurado em prazo recorde, e o retorno dos selecionados da Copa América.
No outro lado da gangorra, Grêmio se atola no Z4, no fogo-fátuo da lanterna, com estapafúrdias seis derrotas sucessivas no certame nacional. É caso de UTI, de respirador, de guinada, de ruptura. Não há como confiar que é uma fase, muito menos acreditar no bordão otimista do rebaixamento: não tem time para cair.
Se o técnico gremista não fosse uma estátua, já teria sido trocado. Já teria sido sacrificado. Parece que Renato Gaúcho se tornou maior do que o Grêmio, a ponto de se duvidar da necessidade de sua dispensa.
Se está ruim com ele, seria pior sem ele — eis o que pensam os torcedores mais supersticiosos. Até porque na terceira queda para a B, em 2021, testemunhamos uma narrativa similar, de Renato começando o ano.
Partilha-se a concepção mágica de que ele possui algum trunfo na cartola e logo vai dar a volta por cima. Seu trunfo está machucado, Diego Costa, ou convocado, Soteldo. Não resta nenhuma força ofensiva. JP Galvão alcançou a proeza da abstinência total, um Tréllez tricolor. A bola foge dele.
O fiapo de esperança que segura Renato Gaúcho é o Fluminense fragilizado, adversário das oitavas de final da Libertadores, pois o plantel das Laranjeiras é uma sombra pálida daquele campeão da América — o típico caso da equipe que envelheceu mal.
Mas é um confronto que está marcado para longe. Ainda é distante. Ainda é remoto.
A tragédia se avizinha. O grande risco do presidente Alberto Guerra é a preservação da comissão técnica para início de agosto. Depois, uma recuperação talvez seja excessivamente inviável numa tabela impiedosa de pontos corridos.
Se ocorrer um tropeço, não existirá nem a justificativa para ter adotado a imobilidade, a ausência de reação administrativa.
Tarefa complexa que desponta no horizonte do Humaitá, agravada pela demora da reforma da Arena.
Só a torcida perto, só a avalanche provocariam uma moderação da crise, mas não uma solução.
O tempo é inimigo do Grêmio.