Quando você viaja para os Estados Unidos, não deve ficar convertendo mentalmente o dólar em real, senão você pira e não faz mais nada. As férias morrerão de inanição. Amargará uma realidade cinco vezes desfavorável à sua moeda.
Um café expresso custará 25 reais. Um breakfast com ovos mexidos, bacon, pão e batata implicará 100 reais. Um jantar em família poderá atingir facilmente o montante de 600 reais, sem bebida alcoólica.
Se você é fumante, vai largar o cigarro no ato. Um simples maço comprometerá 95 reais do seu orçamento. É impossível seguir com o tabagismo ou com uma existência ébria em terra estadunidense. A rua é uma clínica de desintoxicação.
Passeei com filho e esposa em Nova York durante dez dias e juro que parei com o câmbio imaginário para não me desesperar, pois era como se eu estivesse perdendo dinheiro na frente de uma máquina caça-níquel. Passava mais tempo triste do que feliz, antecipando a hora de pagar a conta. Eu me contive no menu. Nem pedia outra porção para não me ver falido.
É um desencanto não ter uma moeda forte, porque influencia a forma como você é recebido. A falta de poder aquisitivo fecha portas.
No momento da gorjeta, você deixa ao garçom, por tradição, de 20% a 22% da fatura. Ou seja, deposita em cima da mesa cerca de 80 reais. Não tem como não pensar que daria para viver de gorjeta. Das próprias gorjetas oferecidas.
Todo mundo percebe seu complexo de vira-lata, lustrando moedas e desamassando cédulas.
Cada gesto público é um dólar a menos. Dois dólares para a camareira limpar o quarto, mais dois dólares para solicitar algum serviço extra no hotel. Eu vivia dizendo “sorry” para mim mesmo, esbarrando com o meu passado consumidor.
É como morar num aeroporto. Uma torrada é do preço de um almoço, um croissant é do preço de uma refeição completa.
Imagino como foi a algazarra de quem viajou para os Estados Unidos entre 1994 e 1999. Nesse breve período, R$ 1 chegou a valer mais do que US$ 1 no bolso. O governo passou a controlar artificialmente a cotação da moeda norte-americana para estabilizar a economia do país, recém-saída de uma hiperinflação.
Com a implantação do Plano Real, em 1º de julho de 1994, R$ 1 correspondia exatamente a US$ 1. Era elas por elas, numa fase mágica de equiparação, num elo perdido de igualdade na balança comercial, facilitando compra de bilhetes aéreos, reserva em hotéis e aquisição de roupas e aparelhos. Em outubro do ano do pacote, o dólar se apresentou em torno de R$ 0,82. Nunca mais tal bonança turística irá se repetir.
Quis trazer esse paralelo para ilustrar como meu espírito de torcedor colorado vem sendo massacrado pela flauta na última semana. É uma desvalorização cambial com a ausência de títulos desde 2016. Ser colorado no Rio Grande do Sul é ser brasileiro de passagem nos Estados Unidos. Já o gremista parece aquele americano que vem ao Brasil e esnoba que seu dólar vale cinco reais.
Mas não se fie pelas aparências, o futebol gaúcho é dinâmico. Com a oscilação natural da secação, uma estrondosa desclassificação do Grêmio na primeira fase da Libertadores, esboçada por duas derrotas seguidas contra os inexpressivos The Strongest e Huachipato, coloca tudo mundo no mesmo saco de dinheiro de novo.
Inter precisa aproveitar os movimentos da gangorra. Só a garra, a vergonha na cara, a revolta, o fim da conversinha mole poderão nos devolver nossas vitórias em euro, afinal, já nos fizeram campeões mundiais em cima do Barcelona.