Se analisar a sua linha de tempo, perceberá que é extremamente curto o período em que você teve a família inteira reunida.
Do alto dos seus cinquenta anos, dos seus sessenta anos, dos seus setenta anos, dos seus oitenta anos, descobrirá que não passou nem uma década com todos juntos.
Trata-se de um ciclo efêmero. Não nos damos conta desta raridade na nossa existência: quando os parentes se mostravam pontuais, lado a lado, sem nenhuma baixa, sem nenhuma perda, sem nenhum luto, sem nenhum divórcio, sem nenhum litígio.
São alguns anos em que você teve o direito de desfrutar da presença dos avós, o direito de conviver com os tios e primos longe de brigas e dissidências, o direito de acompanhar os pais como casal, o direito de ter os irmãos querendo brincar com você.
Depois, encontraria a família em partes, em porções, em trechos isolados, em eventos com alguns representantes, em celebrações com o quórum pela metade, em aniversários com alta abstenção. Jamais ela estaria completa como outrora, na mesma foto, na mesma mesa, na mesma casa. Jamais haveria aquele rebuliço na cozinha, aquele almoço usando o sofá e o prato no colo para comportar uma multidão na sala, aquela algazarra com as pessoas gritando para impor sua versão dos fatos.
O som do ambiente diminuiria consideravelmente até ser compreensível cada diálogo, os abraços rareariam até sobrar espaço, as piadas e implicâncias cairiam no vácuo e no esquecimento.
Os avós morreriam, os pais iriam se divorciar, os irmãos iriam crescer, trabalhar e formar o seu lar, os tios e primos seguiriam seus destinos e só manteriam o sobrenome em comum.
Nada mais seria como antes. Nada mais estaria repleto como antes. Nenhum contato voltaria a ter igual e fértil facilidade.
Veja o parto que é, na vida adulta, tomar um café com um irmão, fazer coincidirem as agendas, localizar um intervalo para confissões e cumplicidade.
Naquela época, você dividia o quarto, você puxava conversa sem pedir licença, você chamava e era atendido, você sequer conhecia o medo da distância.
Não sentíamos saudade porque permanecíamos próximos, rentes, acessíveis.
A saudade só surgiu depois, para apagar a luz.
Se eu soubesse que iríamos nos dispersar pouco a pouco, que a residência cheia não duraria para sempre, eu teria sido mais intenso, mais atento, mais participativo, mais entregue ao momento.
Como eu poderia vislumbrar que o melhor de nós não era eterno?
Embora o Natal agrupe a nova geração de sobrinhos e filhos, as ausências ainda serão notadas, as cadeiras vazias dos antecessores não serão preenchidas. Haverá sempre um porta-retratos na estante ou na parede lembrando quem partiu mais cedo.
Do total da minha história, experimentei apenas sete anos do apogeu familiar, com os troncos materno e paterno entrelaçados, com os galhos se acarinhando, com os pássaros construindo os seus ninhos. Apenas sete anos dos meus cinquenta e dois!
Por que ninguém me avisou antes?
Eu pensava que árvores não voavam.