Ao sair do cinema no Bourbon Shopping Country, vi uma mãe de mãos dadas com o seu filho. Era o campo de visão à minha frente. Desci a escada rolante, atravessei o hall principal, sempre com os dois na minha mira emocional. A princípio, tinham ido assistir a um filme da preferência do menino. Ela perguntava se ele havia gostado do passeio, da pipoca, se estava se divertindo. Inclinava o rosto gentilmente na sua direção. O menino nada respondia.
Quando chegaram perto da faixa de pedestres, a criança se desvencilhou da proteção materna e partiu em disparada até o outro lado da calçada.
A mãe entrou em pânico. A sorte é que a cidade está morta neste período entre Natal e Ano-Novo. Nenhum carro passava.
Ela apanhou o braço do filho e o repreendeu em bom tom:
— Isso não é mais filme, é realidade. Deve se comportar!
Para quê? A partir dessa convocação para o cotidiano, da seriedade instalada, o menino enlouqueceu. Eu fiquei com pena. Eu fiquei escandalizado com o que testemunhei. Percebi que estamos errando com a educação dos nossos filhos por medo da autoridade, por receio de disciplinar, por culpa de trabalhar tanto, por ressaibo de não sermos amados. Compensamos a ausência constante com presentes e licenciosidade.
O menino chutou o traseiro da sua mãe. Uma vez, duas vezes, três vezes. Chutava as pernas de sua mãe em público.
Foi a resposta que deu à primeira censura. Ele se agigantou em desobediência. Certamente não está acostumado a ser negado, não aceita mais nenhum “não”, esnoba os limites, rivaliza com o perigo.
A mãe, desesperada, tentou contê-lo oferecendo um abraço.
“Que ideia é essa de dar um abraço depois de pontapés?”, eu pensei. É como abençoar a violência.
Se não funcionam palavras confortantes, o que sobrará a gestos carinhosos?
Ele não apresentava nenhum distúrbio, nenhum problema aparente, era tão somente malcriado.
No momento em que a ordem desanda na família e a hierarquia desaparece, nada mais pode ser feito, o escândalo é frequente. O filho não diferenciará a casa da rua, o público do privado. A truculência emergirá em qualquer ambiente.
Ela chamou o filho para um canto, e ele estapeava a mãe gritando:
— Ninguém manda em mim!
Se um menino de 8, 9 anos agride sua mãe, o que acontecerá quando ele for adulto?
Nem a sagrada mãe é respeitada.
Eu não poderia chamar a polícia ou acionar a Maria da Penha, tratava-se de um piá endiabrado.
Logo ele seria calado com um hambúrguer e batatas fritas em uma lanchonete do Shopping Iguatemi.
Eu não acreditei!
Em vez de aplicar castigo, a mãe realizava os desejos dele para que se comportasse no resto do tempo.
Assim incentivava o surto, justificava a desordem, cedia a chantagens, mostrava quem mandava ali, transmitindo a mensagem de que, toda vez que ele bater nela, receberá um lanche “feliz”.
Costumamos nos preocupar: que mundo deixaremos para os filhos?
Talvez seja a hora de inverter a pergunta: que filhos deixaremos para o mundo?