Menosprezamos o emocional pela nossa mania de apenas confiar nas doenças de fácil identificação, que rendem um atestado médico imediato.
Assim uma gripe é mais valorizada do que um esgotamento.
Quando alguém diz que aquilo que sentimos “é apenas psicológico”, não está levando a sério o nosso quadro. Insinua um exagero da nossa parte, um drama, uma invenção.
O interlocutor — talvez um familiar, talvez um amigo — balança o rosto, como se a nossa avaliação interna se mostrasse equivocada, como se fosse bobagem ou mera impressão, como se estivéssemos propositalmente distorcendo a realidade.
“É apenas psicológico” é sinônimo de que você não tem nada de errado, de que vivencia um desconforto passageiro e ilusório, de que precisa controlar o seu medo, de que não há nenhum fundamento para as suas inquietações e preocupações.
Não ocorre a sábia investigação do mal-estar. Ou, pelo menos, um interesse legítimo pela origem do problema.
Qualquer um que escuta essa sentença popular se vê na condição de farsante e impostor, forçando uma folga, buscando uma maneira de ficar em casa e não trabalhar.
As pessoas são desacreditadas, por isso agravam o seu estado.
Exatamente por esse ceticismo no mundo psíquico de cada um, experimentamos, como nunca antes, esgotamentos mentais. Hoje são constantes crises de ansiedade e de pânico, ou síndrome de Burnout, porque dissuadimos os mais próximos de seus sintomas, e eles acabam não procurando ajuda terapêutica antes do recrudescimento das suas fragilidades.
Desprezamos os sinais por duvidarmos do poder da mente e do quanto dependemos da saúde emocional para executarmos a nossa profissão e reagirmos às necessidades e anseios da própria família.
Existe um desajuste, um trauma, uma crise de identidade pedindo espaço. Se a alma não é socorrida a tempo, o corpo trata de falar no lugar dela e sucumbe.
O que era psicológico logo se torna perigosamente físico. Pois só caindo de cama que o indivíduo terá novamente credibilidade.
Quando você não tem lugar para comunicar as suas aflições, jamais cessa de tê-las, apenas cansa de expô-las.
Pode ser uma pressão no emprego, pode ser uma insatisfação no relacionamento, pode ser uma frustração dos seus rumos, pode ser uma sobrecarga de responsabilidades e expectativas. Há uma infinidade de motivos. Os contextos sociais nem sempre favorecem o alcance de um equilíbrio pessoal.
A infelicidade traz o isolamento. Quando você não tem lugar para comunicar as suas aflições, jamais cessa de tê-las, apenas cansa de expô-las. Elas seguirão aumentando silenciosamente e consumindo o seu raro tempo livre para fantasiar o pior.
A coragem da confissão que sobrava inicialmente vai perdendo ânimo. Após ser desestimulado por alguém, não se abrirá novamente. Ninguém quer ser visto como um fiasquento.
As doenças invisíveis são visíveis primeiramente na linguagem. Jamais esqueça que sentimentos são fatos.