Será que você não comete etarismo?
São aqueles preconceitos que vêm e vão sobre a competência de alguém pela sua idade.
Eu tinha que viajar para o interior do Estado. O motorista chegou cedo e apertou o interfone. Era uma mulher. Quando desci, por um breve momento, imaginei que ela fosse uma visita para outro apartamento. O estigma já havia me atingido pelo inconsciente. Não acreditei que aquela senhora frágil e de estatura miúda pudesse ser a minha motorista.
No primeiro contato visual, já a desmereci.
Tanto que fiz questão de carregar a minha mala até o bagageiro. Se fosse um homem, não colocaria em xeque a sua aparência. Não questionaria a figura masculina de sessenta anos atuando como profissional de viagem.
Ninguém está velho para nada.
O etarismo tem como sua vítima predileta a mulher.
Aquela motorista começou andando devagar, vacilante, entrando por engano numa rua sem saída, não seguindo a orientação de nenhum aplicativo como Waze. Eu já perdia a paciência, deduzindo que uma tartaruga pré-histórica me guiaria num trajeto de cinco horas.
Eu me censurei. Havia algo de errado comigo, não com ela. Estava a prejulgando sem conhecê-la. As piadas subiam prontas da garganta. Por um triz, não mandei mensagens para a minha esposa de que o percurso seria uma tortura.
Foi quando chegamos na BR e ela se mostrou um míssil, um foguete. Deslizava pela via da esquerda como dona exclusiva da pista. Não senti nenhuma insegurança. Ela ultrapassava com convicção, e jamais fiquei enjoado.
Meire desfrutava de 25 anos como condutora. Nunca contraiu uma multa. Nunca bateu o veículo ou se envolveu em algum acidente. Era indefectível. Chegamos ao local da palestra com uma hora de antecedência.
Mordi a língua, os dentes, a gengiva, os lábios, a minha mandíbula inteira.
Eu errei em pensamento, e já me senti a pior criatura do universo. Mas tem gente que vai além: coloca o pensamento em ação, em prática excludente, com o objetivo de lacrar junto com a turma, causando sérios transtornos e traumas para pessoas que buscam realizar seus sonhos.
Lembro imediatamente o que sofreu a universitária Patrícia Linhares, 44 anos, na semana passada. Foi alvo de bullying, hostilizada por três colegas do curso de Biomedicina da Unisagrado, faculdade particular de Bauru (SP).
Num vídeo publicado originalmente apenas para amigos próximos no Instagram e que vazou para a rede social aberta, o trio de adolescentes satirizava a presença de Patrícia, dizendo que ela não deveria saber nem o que era o Google.
— Com 40 anos, ela já era para estar aposentada!
O mais grave da zoeira é que as jovens falavam sério, em uníssono, buscando um jeito de desmatricular a aluna e convencer os seus pares da anomalia.
O que os pais das estudantes devem achar disso? Até porque eles têm os mesmos quarenta anos da agredida ou mais. Com certeza, elas tampouco respeitam o pai e a mãe.
O que precisamos aposentar é a infantilização da violência. Piadas doem.
Ninguém está velho para nada. Nem para aprender a amadurecer. Nem para recomeçar a vida.