Um conhecido cabeleireiro de Belo Horizonte — aliás conhecido de todos, inclusive já frequentei o seu salão — surpreendeu ao aparecer no noticiário policial por briga em motel com prostitutas, as quais alegavam que ele se indispôs a acertar o pagamento combinado e que buscava manter relações sem proteção. A bizarrice maior é que estava acompanhado dos dois filhos adolescentes.
O que passa pela cabeça de um pai para levar seus dois filhos menores de idade a um motel? Bancar o malandro? Querer ser o esperto?
Ele não somente destruiu a sua carreira, mas também a reputação de sua família. Confundiu o papel paterno com o de cafetão, incentivando orgias.
Talvez seguisse um modelo um tanto anacrônico, machista e heteronormativo dos anos 50, quando os homens mais velhos de casa eram responsáveis pela iniciação dos mais novos nos bordeis. Naquela época, havia o costume de apadrinhar a perda da virgindade dos jovens. Estes chegavam a ser forçados a ter experiência o mais cedo possível, para provar a macheza e eliminar o receio de outra orientação sexual.
O cabeleireiro não evoluiu mentalmente com o transcorrer do século, logo ele, afamado por cuidar dos cabelos das clientes e transmitir a imagem de sensível e compreensivo com os anseios femininos.
Conseguiu oferecer uma série de péssimos exemplos em menos de uma hora de quarto: trair a sua namorada, agredir as parceiras sexuais, coisificar o corpo e não se importar com a prevenção. A tornozeleira eletrônica e a restrição a sair são o de menos perto da supressão da liberdade do próprio nome.
Fazia tempo que eu não via tamanha distorção familiar.
Parece que a paternidade não largou a Pré-História. Há homens que acreditam piamente que devem ensinar aos filhos o pior da existência, transmitindo um legado mundano de abusos: brigar de socos com os colegas, mentir e enganar os seus amores, beber loucamente, dirigir em alta velocidade.
Pelo viés da limitação afetiva, pensam que estão preparando seus rebentos para a vida, inspirando-os a se defenderem de um mundo violento. Quando, pelo contrário, perpetuam a dominação pela força física, produzindo traumas irreparáveis com a ostentação de uma conduta misógina.
Dispensando o senso de responsabilidade, tentam firmar uma amizade de igual para igual. Como se fossem colegas da mesma faixa etária.
Os filhos sequer precisam entrar em gangue com tutores assim.
Não é por acaso que a taxa no país de registro de filhos sem a figura do pai cresceu 0,8% em relação a 2019. De acordo com a Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil), 100.717 crianças foram apresentadas em cartórios por mães solo nos primeiros sete meses de 2022.
A raiz do mal não está na deserção do lar, mas antes no desrespeito à mulher. O pai abandona o filho para punir a sua companheira, para castigar o romance indesejado.
Não tem nada a ver com a repulsa aos bebês, e sim com o imenso medo que parte dos homens ainda tem da mulher.