Não serão o horário eleitoral gratuito, os debates entre os candidatos, as faixas nos viadutos e canteiros, os carros de som, a militância na sinaleira, os jingles, os argumentos, os projetos de governo que decidirão a eleição presidencial de início de outubro, mas uma expressão contagiante dos dedos, uma linguagem corporal.
Não tem sequer como controlar a boca de urna do pleito desta vez, não tem como esconder as mãos dos eleitores, mesmo que o celular fique com o mesário enquanto se vota. As camisetas com os números dos postulantes ao cargo máximo no país tornam-se irrelevantes, assim como os adesivos nos carros.
Trata-se do revólver que identifica Jair Bolsonaro, defensor da população armada, que pode se transformar no L de Lula. Essa letra significa também Liberdade e se popularizou com a defesa contra a prisão do líder do Partido dos Trabalhadores, feita pela Operação Lava Jato em sentença que foi anulada. Igualmente, o L de Lula pode se converter no gatilho de Bolsonaro. A pólvora ou a mudança estão nas unhas.
A versatilidade da expressão não deu chance para nenhum dos outros presidenciáveis, que não conseguiram igual síntese de apoio.
Vídeos nas redes sociais de celebridades brincam com as expectativas dos seus seguidores: mão para cima ou para baixo?
Na luta pela conversão de votos em reta final da campanha, o dueto entre o polegar e o indicador roubou a cena, assumiu o palanque.
É uma guerra deflagrada no palco das linhas do destino de nossas palmas, uma quiromancia eleitoral.
Jamais, numa disputa entre dois candidatos, um mesmo gesto expressivo, emblemático e absoluto se desdobrou para apoiar um lado ou o outro, quinas de uma mesma moldura de ambição, antecipando precocemente o segundo turno. Jamais tivemos um símbolo que representasse situação e oposição ao mesmo tempo, capaz de produzir adesão num breve giro e torção do pulso.
Melhor do que a vassoura de Jânio Quadros, ou o espanador de porta-retratos de Getúlio Vargas.
Qualquer um entende sem nenhuma dúvida, sem necessidade de uma declaração. Usando apenas a fragilidade dos punhos, o silêncio faz barulho, o silêncio é buzinaço de motos ou panelaço nas janelas.
Aliás, estamos diante de uma eleição com a possibilidade de terceiro turno. Pulou-se o primeiro turno, não houve primeiro turno, tamanha a polarização entre duas frentes políticas, entre dois ódios declarados, entre duas rejeições consolidadas. Ou você odeia o PT, ou odeia o presidente candidato à reeleição.
Tenha cuidado ao gesticular. As mãos não são mais ingênuas. Hoje são bandeiras. Talvez esteja abrindo o voto sem saber.
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O polegar e o indicador
Tenha cuidado ao gesticular. As mãos não são mais ingênuas. Hoje são bandeiras. Talvez esteja abrindo o voto sem saber
Fabrício Carpinejar
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