Porto Alegre tem a pior água de coco do mundo. É tão rasa, tão rala, que parece que você comprou um coco já usado.
É um desperdício pôr canudo. Você resolve tudo numa única sucção. Depois fica girando o canudinho de um lado para o outro, numa endoscopia do fruto, para ver se encontra uma residual poça. Só que não vem mais nenhuma lágrima. Nenhum suor da brancura interior.
Se está conversando com alguém, finge que ainda não acabou, apenas para não se sentir bobo e enganado. Vai chupando goles secos, imaginários. E cuida para o bojo vazio não roncar como um chimarrão.
Esse cenário pode mudar com a instalação de oito quiosques na orla do Guaíba, da Usina do Gasômetro até a Rota das Cuias.
Teremos chance de perder o título negativo e talvez conhecer aqueles baldes de coco do Nordeste. É o que espero, já que finalmente contaremos com barracas litorâneas na capital.
Haverá aumento da demanda e, consequentemente, maior qualidade do produto. Ainda pagaremos caro pela falta de coqueiros em nossa costa, contrastando com a pujança de outras cidades turísticas, mas pelo menos mataremos a sede.
Nós, profissionais do mate, acostumados a destrancar as bombas mais entupidas, logo atingiremos a alta performance dos bebedores de coco. Ninguém suga tão rapidamente a água como o gaúcho. Não haverá rival no país.
Uma nova palavra será introduzida na prática coloquial do porto-alegrês: “quiosque”. Ela poderá ser modificada e abreviada com o tempo pelo nosso sotaque.
Não duvido que vire “quiós” com a repetição. Certamente algo iremos inventar, alguma abreviação carinhosa surgirá nas próximas gerações.
A montagem dos quiosques para atender o público à beira do Guaíba sinaliza uma mudança em nosso comportamento. Não estamos mais de costas para as águas. Não é mais um lugar de passagem de corridas e bicicletas, porém um belvedere para permanecer vadiando por horas e admirando os reflexos do sol na nossa borda infinita.
Voltamos a namorar o rio. Casamento mesmo será quando mergulharmos novamente em sua extensão, quando acolhermos suas ilhas como parte da cidade, quando aparecermos de sunga e biquíni pelo calçadão da zona sul.
Não é para agora, não é para já, nem é possível visualizar tal cena durante o inverno, porém é uma esperança.
Não aguento mais os meus pais jogarem em minha cara que tomavam banho no Guaíba. Vivem se vangloriando, como se o passado deles fosse melhor do que o meu presente.