A torcida única tira o gosto da vitória de ambas as partes. Não é igual triunfo não ter o rival ao lado para expor o emblema da camiseta, tremular a bandeira e comemorar o gol.
Acredito que os urros são mais altos, um incentiva o outro a incentivar ainda mais, a galera não desanima pela adrenalina da comparação, querendo ser mais leal e fanática. É uma catarse coletiva, movida a charangas e tambores.
Sem a implicância histórica, é como beber cerveja sem álcool. Finge-se que é normal.
Até porque a oposição presencial aumenta a devoção. Você torce a favor e contra simultaneamente. Só no Gre-Nal o torcedor e o secador se encontram olhando a mesma partida.
Sacrificamos grande parte da emoção, da intensidade, da guerra amistosa de cores, do brilho das comemorações. Sacrificamos também o teste de civilidade: provar que podemos conviver respeitosamente dentro das regras da flauta.
Gre-Nal bom é quando você volta para casa e ostenta que não houve nenhuma confusão. Todo mundo espera conflito e, quando você frustra as expectativas negativas, atinge um patamar de Nobel da Paz - demonstra para a família que a harmonia é possível, que se controlou, que não é uma besta enjaulada, que não mudou de caráter ao agir em massa. Nem ficará com medo do VAR das dependências e de aparecer na TV quebrando o patrimônio do clube.
Um público monocromático não deveria ser adotado em duelos tradicionais, onde os dois times são da cidade. Grêmio e Internacional têm o poltergeist de River e Boca - tudo pode acontecer. É um clássico sobrenatural, com gols espíritas, aparições milagrosas de reservas e expulsões fantasmagóricas.