A resposta para a provocação no título tem relação com a forma como tentamos fazer jornalismo diário na Redação Integrada. Antes de respondê-la, faço um preâmbulo para que se compreenda o contexto da pergunta.
Por volta das 16h20min de quarta-feira, uma sucessão de mensagens pelo WhatsApp da Rádio Gaúcha chamou a atenção de Kelly Matos, que apresenta o Gaúcha+ ao lado de Leandro Staudt. Eram ouvintes informando que um avião sobrevoava a baixa altura vários bairros da Capital, saindo da rota tradicional do Aeroporto Internacional Salgado Filho.
Kelly costuma tornar públicos assuntos que chegam via Whats após a checagem pela reportagem, mas como o número de mensagens era atípico e o programa se aproximava do final, a jornalista abriu uma exceção:
– Staudt, um assunto está mobilizando nossos ouvintes. Várias pessoas estão mandando mensagens pelo WhatsApp para alertar sobre um avião que está sobrevoando Porto Alegre em baixa altitude – falou a apresentadora para o colega de bancada.
Na Redação Integrada, um andar acima, houve mobilização imediata. Assistente da equipe de imagem, Mathews Leal acessou o site Flightradar24, que monitora o espaço aéreo em tempo real, e confirmou a rota atípica de uma aeronave.
Do prédio da Zero Hora, na esquina das avenidas Ipiranga e Erico Verissimo, o fotógrafo Marco Favero fez os primeiros registros do jato, que, naquele momento, sobrevoava o Guaíba.
Sem informações concretas, ainda não se sabia das circunstâncias das manobras. Havia problemas mecânicos? O piloto gastava combustível antes de pousar? Seria um voo experimental? Alguém corria risco? Na dúvida, Favero foi para o Salgado Filho.
O esclarecimento se deu quando o repórter Lucas Abati conseguiu falar com assessores da Fraport, companhia alemã que administra o aeroporto. Conforme publicado em GaúchaZH às 17h30min daquela quarta, um Legacy 500, fabricado pela Embraer, estava analisando instrumentos localizados na cabeceira da pista, que auxiliam pousos com baixa visibilidade. A atividade é realizada para verificar o funcionamento dos recursos que auxiliam nos deslocamentos das aeronaves.
Tratando-se de um voo sem sobressaltos, como ocorre em praticamente todas as dezenas de voos que chegam e saem de Porto Alegre diariamente, o que fazer com a informação? Publicaríamos uma aparente “não notícia” ou desembarcaríamos do assunto?
Para a Redação, que trabalha conectada a leitores e ouvintes, não há dilema. Diante de tamanha mobilização pelo Whats, era evidente a necessidade de uma abordagem jornalística. O tratamento noticioso do assunto, como ocorreu em GaúchaZH, na Gaúcha e em Zero Hora, no dia seguinte, é também uma demonstração de respeito com nosso público – não é à toa que as pessoas procuraram o WhatsApp da Gaúcha para saber o que ocorria no céu da cidade naquela tarde. O tempo em que editores, em uma via de mão única e, por vezes, arrogante, decidiam sozinhos o que seria apurado e publicado faz parte do passado. Interesse público e interesse do público (das pessoas que nos acessam pelos canais digitais, que nos sugerem pautas, que nos provocam com suas inquietações) balizam as decisões jornalísticas da Redação Integrada.