Não adianta reclamar dos políticos. Nos últimos anos, e eles nos deram razão para isso, nos acostumamos a falar dos desvios e corrupção dos governantes, de diferentes esferas. Dólares na cueca, propina carregada em malas, dinheiro desviado de obras, da saúde e até da merenda escolar. Mas a corrupção não está somente em grandes valores ou esquemas. Quando alguém que não foi afetado pela enchente pede os auxílios do governo, está sendo tão corrupto quanto o empreiteiro que pagou ou o governante que embolsou milhões, trocou por apartamentos, carros, joias ou ganhou presentes valiosos.
Na enchente de maio, muita verba foi prometida. Com o objetivo de desburocratizar o sistema e reduzir prazos, recursos estão sendo liberados contando com as informações repassadas pelas administrações municipais. É ótimo que isso ocorra. Quem perdeu tudo, precisa de ajuda imediata, sem amarras. Ao mesmo tempo, o cuidado com o dinheiro público é importantíssimo para os programas — e os governos — não caírem em descrédito. Durante a pandemia já vimos casos em que o auxílio emergencial era sacado por pessoas com plenas condições financeiras. Somente quando os cidadãos em geral tiveram acesso aos nomes dos beneficiados foi que alguns tomaram vergonha na cara e devolveram os valores. Sem isso, seguiriam tentando tirar vantagem. Isso também é corrupção.
Há alguns dias até mesmo o BNDES precisou apertar as regras de tomada de crédito por empresas depois que algumas, que não estavam em áreas de alagamentos, pediram dinheiro que era destinado às atingidas pela emergência climática no Estado. Quem realmente precisa de ajuda fica desassistido quando a verba destinada a uma finalidade é usada para outra.
Casos de mercados lavando embalagens e devolvendo produtos com risco de contaminação às prateleiras se proliferam no noticiário. Vimos latas de refrigerante e cerveja, garrafas de espumante e até mamadeiras passando por higienização para enganar o consumidor.
Esses dias, ouvindo sobre o caso de duas pessoas que pegaram produtos que tinham sido descartados exatamente porque ficaram 20 dias debaixo d´água, e estavam lavando no pátio de casa para depois vender aos desavisados, escutei um comentário de que a Lava Jato não ensinou nada às pessoas. Ora, e como ensinaria, se as penas foram reduzidas ou extintas? Como daria medo de repetir se o dinheiro de corrupção, pago pelos que lesaram o sistema, foi devolvido aos corruptores? Como a impunidade pode ensinar algo? Os seduzidos por ganhos e por poder ficam loucos pela vantagem e deixam de lado qualquer sinal de honestidade ou ética. Resta aos órgãos fiscalizadores fazer seu trabalho e evitar fraudes e desvios, seja de um, ou de um milhão de reais.