Quando me perguntam porque gosto tanto mais de Jogos Olímpicos do que de futebol, a resposta é sempre a mesma. A forma como os atletas e o entorno se comportam. Todos eles, independentemente das conquistas, têm a real dimensão do que representam não só para suas modalidades, mas para jovens que os têm como exemplo.
E foi assim que ouvi, durante a entrevista com a Mayra Aguiar, um pedido de "desculpas por não ter falado muito durante o ciclo". Mas ela realmente precisa fazer esse pedido? Ela é campeã do mundo três vezes, assim como foi três vezes medalhista olímpica. Ela não é uma juvenil que mal chegou e já quer a janela no avião. Pelo seu tamanho, merece a primeira classe.
Pois bem, Mayra. Você não deve pedir desculpas por isso. Nós é que devemos te agradecer por ter compartilhado conosco os teus melhores momentos e ter nos permitido saber o quão grande você é como atleta e pessoa. Ter falado de tuas emoções, das dores, das oito cirurgias, ter chorado e nos permitido chorar...
Só para relembrar. Em 2022, logo após o seu terceiro título mundial, você me concedeu uma longa entrevista, por telefone, logo após deixar o pódio do ginásio em Tashkent. E nessa conversa, uma das coisas que ouvi sobre o judô foi: "É o que amo fazer".
Por isso, independentemente do que você venha a decidir sobre seu futuro, saiba que és motivo de orgulho para a nossa gente, para o nosso Estado, o Brasil. Todos temos orgulho em dizer que a maior judoca da história do país nasceu no Rio Grande do Sul. E sem dúvidas, Mayra Aguiar, você é a maior atleta nascida em nossos pagos.
A prata de Caio Bonfim e a cultura esportiva do Brasil
A frase de Caio Bonfim, no microfone da Gaúcha empunhado pelo Rodrigo Oliveira, após ter sido vice-campeão olímpico, pode ter passado despercebida para muito. Mas ao dizer: "Eu brinco que o Brasil tem dois esportes: o futebol e o outro que está ganhando. Então, se você quer aparecer, você tem que estar nesse outro que está ganhando" é absolutamente verdadeira.
No Brasil, vale mais a unha encravada do oitavo reserva de um time de futebol do que as dores e as cirurgias de Rebeca Andrade, por exemplo. Mas quando os Jogos Olímpicos chegam, os "especialistas em todos os esportes" e especialmente os críticos aos desempenhos dos atletas brasileiros surgem como um meteoro e reaparecem quatro anos depois.
O grande duelo da Olimpíada
Toda Olimpíada é feita de grandes nomes. E em Paris, o principal duelo tem uma brasileira: Rebeca Andrade. Na Bercy Arena, ela e americana Simone Biles disputam a hegemonia na modalidade. O primeiro capítulo aconteceu nesta quinta, e a maior ginasta de todos os tempos levou a melhor. Biles ganhou o sexto ouro da carreira olímpica.
Porém, a prata de Rebeca tem gosto de ouro. Ela mudou o patamar da ginástica artística do Brasil, que passou a ser observada a partir do fenômeno Daiane dos Santos, primeira atleta brasileira campeã mundial.