Ele nasceu na cidade mato-grossense de Matupá, mas tem fortes ligações com o Rio Grande do Sul. Vice-campeão mundial indoor de salto triplo em 2018 e radicado em Porto Alegre desde os 15 anos, Almir Junior tem a capital gaúcha como sua terra. Afinal, sua esposa Talita Ramos e os seus filhos Bernardo e Bento são gaúchos.
Dessa forma, quando as cheias dos rios chegaram ao lago Guaíba e inundaram parte da cidade, ele resolveu mudar seus planos. Com vaga assegurada nos Jogos Olímpicos de Paris e treinando em Portugal, Almir decidiu retornar para casa e logo foi visto ao lado de milhares de voluntários ajudando em resgates e no que mais fosse necessário.
Afinal, o Estado e a cidade que o acolheram precisavam dele. Não era a hora de saltos. E Almir, assim como diversos outros atletas juntou forças para fazer o que há de melhor, o bem. Os treinos ficaram em segundo plano. Mas mesmo assim um compromisso estava marcado para Cuiabá, a capital do seu estado natal. O Campeonato Ibero-Americano de Atletismo, que foi encerrado no domingo (12) à noite, no Centro de Treinamento Olímpico da pista da Universidade Federal do Mato Grosso.
E Almir Junior estava lá. Foi a oportunidade de competir em casa e rever o pai, Almir, e os irmãos Artur e Alex, que percorreram cerca de 700km entre Matupá e Cuiabá. E foi com essa torcida e de milhares de gaúchos, alguns que foram ajudados por ele nos últimos dias, que o atleta da Sogipa não só venceu a prova como fez uma das melhores marcas de sua carreira e estabeleceu um novo recorde do campeonato. Os 17m31cm que lhe garantiram a medalha de ouro o colocam como sétimo colocado no ranking da temporada e o décimo melhor salto do ano.
— Minha mulher é gaúcha, guris gaúchos, moro em Porto Alegre desde os 15 anos, sou cria da Sogipa, do Arataca. Todo mundo sabe a catástrofe que afetou os gaúchos e eu fui ajudar, fazer a minha parte. Imagina você perder tudo o que você conquistou durante toda a vida. Por mais que seja um sentimento de luto, ruim, dá um conforto quando você vê a galera lutando um pelo outro. Espero que todos ajudem. Esse vai ser um trabalho de longo prazo, de reconstrução — comenta o saltador de 30 anos, que usou um bote emprestado por um amigo para ajudar no resgate às vítimas.
Emocionado, ele recebeu sua medalha de ouro e a colocou no peito de um dos filhos, Bento , que estava envolto pela bandeira do Rio Grande do Sul.
O Brasil venceu o Ibero-Americano com 43 medalhas conquistadas, 16 de ouro, 12 de prata e 15 de bronze, superando Colômbia, Espanha, Equador e Chile, que completaram o grupo dos cinco primeiros da competição que reuniu 556 atletas de 24 países.