Em uma coluna anterior usei o exemplo de Samory Uiki, atleta da Sogipa que ainda busca classificação para os Jogos Olímpicos de Paris no salto em distância para falar sobre o verdadeiro espírito olímpico em meio ao caos que vivemos no Rio Grande do Sul.
Outros tantos atletas seguem nesta batalha ao lado da população e tem se voluntariado junto de milhares de gaúchos e brasileiros, que estão auxiliando nas buscas, resgates e em campanhas de arrecadação de donativos.
Sempre digo que o esporte deve ser exemplo e que os atletas tem um papel grandioso na sociedade, sendo espelho para muitas pessoas. A visibilidade nessas horas é algo necessário para dimensionar o que aqui ocorre e o quanto é necessário um espírito de equipe, de colaboração e participação.
Pois na mesma Sogipa, temos atletas qualificados para Paris, como o mato-gorssense Almir Junior do salto triplo, que mudou seu cronograma de treinos e competições para se unir à cidade que o adotou quatro judocas, entre eles a tricampeã mundial e dona de três pódios olímpicos Mayra Aguiar.
Mas Almir e Mayra não estão sozinhos e tem a seu lado Daniel Cargnin, bronze em Tóquio e que na última temporada vem convivendo com lesões, mas que em momento algum se furtou de estar ao lado dos seus. E com ele está João Derly, primeiro brasileiro a vencer um Mundial de judô e que é um dos maiores esportistas da história do nosso Estado.
Almir, Mayra, Cargnin, Derly, Samory, o time olímpico ainda tem Alexia Castilhos, Eric Takabakate, Gabriel Genro, Jéssica Lima, Leonardo Gonçalves, a nadadora olímpica do Grêmio Náutico União Viviane Jungblut, que ao lado de seus colegas de clube na última semana ajudou a preparar os ginásio do clube para receber desabrigados. Por coincidência estive lá naquele dia para levar donativos e a encontrei ao lado do técnico Kiko Klaser. Nos cumprimentamos e as palavras não saíram tamanho o impacto do que estávamos começando a testemunhar.
E o que falar do treinador das seleções de base de judô, Douglas Potrich, que está abrigando 35 pessoas no dojô da Kiai, sua academia em Canoas, e que vem arrecadando fundos para a reconstrução de casas da população local e de muitos de seus atletas.
De longe, Rochele Nunes, que nasceu em Pelotas e que desde 2019 defende a seleção portuguesa de judô faz campanhas de arrecadação e constantemente tem relatado em suas redes sociais o que vem ocorrendo com o nosso povo, com a sua gente. E os remadores que abriram mão de participar da seletiva olímpica e por tabela de um sonho que acalentam desde a infância? Alef Fontoura (Pinheiros-SP), Evaldo Mathias Becker (Flamengo-RJ), Daniel Lima e Piedro Tuchtenhagen (Grêmio Náutico União) tomaram uma decisão que pode ter grande importância em suas carreiras. Mas nesse momento é o que menos importa.
Os barcos dos tradicionais clubes gaúchos de remo e vela tem uma tarefa indispensável nesse momento e a comunidade náutica formada por funcionários e associados do Clube dos Jangadeiros, do Veleiros do Sul e de marinas em parceria com as polícias Militar, Civil e Federal, além da Marinha e da Defesa Civil tem se desdobrado desde o começo das inundações nos milhares de resgates de pessoas e animais, afinal todas as vidas importam.
Sei que não é hora de individualizar e prego isso. Homenagens deverão ser prestadas a todos. Mas acredito que ressaltar esses exemplos é mostrar que todos somos iguais, que diferenças existem e seguirão existindo, mas que apenas com um trabalho conjunto é possível superar momentos dramáticos como o que se apresenta.
São tantos os exemplos que uma certeza é possível ter. Por mais que alguns tentem nos fazer desacreditar na humanidade, os bons ainda são a maioria e muitas medalhas de ouro devem ser entregues para Almir, Mayra, Cargnin, Derly, Samory, Alexia, Eric, Gabriel, Jéssica, Leonardo, Derly, Douglas, Kiko, Viviane, Rochele, Alef, Evaldo, Daniel, Piedro ... e para cada pessoa que de alguma forma tem contribuído e colaborado para salvar vidas e tentar dar um pouco de dignidade para quem sequer sabe qual será o seu destino quando as águas baixarem.