Estar nos Jogos Olímpicos é o sonho de todo atleta. A oportunidade de fazer parte da elite do esporte mundial aparece a cada quatro anos e, por vezes, pode ser única. O gaúcho Samory Uiki, 27 anos, teve essa oportunidade em Tóquio em 2021, após enfrentar um período de pandemia, que tornou o isolamento necessário e deixou os esportistas sem poder treinar. O resultado pode não ter sido o esperado e o 16° lugar ter ficado aquém do que ele projetava, mas já era uma grande vitória para quem nasceu em uma família humilde e que com o talento nato foi superando obstáculos.
Até por ser jovem uma nova oportunidade se avizinha em Paris. Samory ainda não atingiu o índice de 8,27m para voltar a disputar uma prova olímpica do salto em distância e salta contra o tempo, afinal 30 de junho é o prazo limite para obtenção da marca. Mas o atleta da Sogipa nesse momento se vê em meio a outra disputa, onde não está sozinho e tem a seu lado milhares de pessoas, a da sobrevivência. Afinal, o que mais se quer no Rio Grande do Sul nesse momento é lutar pela vida, pelo próximo.
E um atleta não é destaque apenas por vitórias, medalhas e troféus. Ele é sim um exemplo. E quando falo exemplo não digo quem faz propaganda de roupas de grife, calçados da moda, que dança ou canta. O poder que o atleta e o esporte tem é de ser um agente transformador. E Samory Uiki sabe bem disso. E estando na linha de frente, ajudando voluntários, ele e tantos outros esportistas tem usado sua força nesse período de calamidade para a população gaúcha. Mesmo que isso custe atingir um objetivo pessoal.
Na quarta-feira (8), Samory apareceu ao lado do apresentador William Bonner, no Jornal Nacional. Claro que tantos outros voluntários poderiam ser escolhidos, como tem sido ao longo dos dias pelas emissoras de rádio e televisão, pelos portais e jornais. Mas ter um atleta olímpico mostrando como todos devem se comportar é um exemplo, um estímulo e dimensiona o que estamos passando.
Ao Bonner, Samory contou que abriu mão dos treinamentos e que "está tentando fazer a sua parte, assim como todos os voluntários aqui nessa corrente, que a gente talvez seja única na história do nosso estado e talvez do Brasil, de pegar a mão dos outros e ajudar o próximo".
Esta é a demonstração do que prega o espírito olímpico. Quando recriou os Jogos, o francês Pierre de Coubertin desejava "contribuir na construção de um mundo melhor, sem qualquer tipo de discriminação, e assegurar a prática esportiva como um direito de todos".
Pois saiba, Samory, que o maior índice que você pode atingir já foi conquistado, o da humanidade, o da solidariedade, o da empatia, algo que tanto faz falta entre nós.
Que tenhamos mais "Samorys", mais Rochet, Caíque, Thiago Maia, Diego Costa, Viviane Jungblut, Alef Fontoura, Evaldo Becker, Daniel Lima e tantos outros que estão aqui ajudando os seus, assim como aqueles que de longe tem mandado doações e usado sua relevância para o bem comum.