Uma das modalidades mais vitoriosas do esporte brasileiro, com títulos mundiais, medalhas olímpicas e conquistas pan-americanas, o basquete brasileiro ainda não conseguiu retomar sua condição de protagonista.
E tudo o que ocorre não está ligado só a quadra. Bons jogadores o Brasil segue produzindo. Nos últimos anos, Anderson Varejão, Leandrinho Barbosa e Tiago Splitter foram campeões da NBA, assim como outros tantos brasileiros puderam atuar na principal liga do mundo. Na Europa, nossos atletas seguem requisitados. Na WNBA, Erika, Iziane e mais recentemente Stephanie Soares.
Mas, apesar de bons nomes, a estrutura do basquete brasileiro sofreu abalos. O vôlei tomou o espaço, roubou o protagonismo mundial e criou, nas últimas décadas, gerações de ídolos.
A análise é longa e profunda e também passa pela parte diretiva. A Confederação Brasileira de Basketball (CBB), que hoje busca se reestruturar, passou por problemas que incluíram gestões que não foram tão hábeis para trabalhar recursos.
O Brasil ficou 16 anos sem disputar o torneio olímpico masculino, ficou de fora da disputa feminina em Tóquio, e passou a enfrentar dificuldades para ser dominante na América do Sul. Há muitos anos foi ultrapassado pela Argentina, que na mesma época passou a contar com um trabalho mais forte de sua confederação e colheu frutos, com revelação de grandes jogadores, título olímpico, pódios mundialistas e um avanço significativo no feminino. Nesses períodos de crise, a CBB foi até suspensa pela Federação Internacional de Basketball (FIBA).
A Liga Nacional de Basquete (LNB), hoje responsável por organizar as duas principais competições do País, o NBB e a LNB, sem falar nas ligas de desenvolvimento e de parcerias com a NBA, surgiu e passou a dar uma estabilidade à modalidade, algo que havia sido perdido por conta da própria CBB. Estes torneios geridos pela Liga passaram a ser responsáveis por classificar equipes para as competições internacionais, enquanto a CBB ficou com torneios de base e seleções.
Choques de interesse promoveram quedas de braço, sempre contornadas por acordos. Porém, a última delas ocasionou um rompimento, que nesse momento retira a chancela da LNB, o que na prática significa que ela pode seguir organizando competições, mas que nenhuma delas é oficial e isso devolve a CBB o poder de ter os principais eventos. Em resumo, uma briga pelo poder, quem sabe com doses de vaidade. De antemão, é possível dizer que não existirá um vencedor. Mas, com 100% de certeza, o derrotado é o próprio basquete brasileiro.
O cenário assusta os clubes, que já se movimentam no mercado para a disputa da próxima temporada do NBB, mas também possíveis parceiros e patrocinadores, que diante do quadro de instabilidade acabam se retraindo e até se retirando de alguns investimentos. Ou seja, o basquete sendo derrotado.
Ao mesmo tempo, a CBB segue com seleções em ano de Copa América feminina, que começa nos próximos dias, Copa do Mundo masculina, que valerá até mesmo vaga para os Jogos de Paris-2024, e ainda os Jogos Pan-Americanos, que tem a importância continental. Na base, as seleções brasileiras têm fracassado em diversas competições continentais e mundiais e, claro, isso está ligado ao processo de organização interna.
Do lado de cá, pode parecer até mais fácil emitir a opinião, lógico. Mas conversando com dirigentes, treinadores e pessoas ligadas ao basquete, está muito claro que esta briga pelo poder irá fazer a modalidade retroceder nos avanços ocorridos nos últimos anos.