Em 2021, durante os Jogos Olímpicos de Tóquio, lembro de ter escrito para GZH que Rebeca Andrade era a cara do Brasil. Jovem de família humilde, negra e que teve de superar diversas barreiras para chegar a um mundo ainda distante para a maioria de meninas e meninos como ela.
Pois nesta quinta-feira (3), a filha de Rosa dos Santos, uma doméstica que precisou fazer um esforço gigantesco para criar os sete filhos, voltou a brilhar e agora não é só campeã olímpica do salto, mas a ginasta mais completa do mundo, ao conquistar o título mundial do individual geral, a disputa mais exigente da modalidade. Afinal vence quem somar mais pontos após se apresentar nos quatro aparelhos, a trave, as barras paralelas assimétricas, o salto e o solo, no qual Rebeca confirmou sua vitória ao som do Baile de Favela.
E nada melhor que uma mulher negra, como a menina de Guarulhos, que dividiu com a mãe e os irmãos uma pequena casa na região da Grande São Paulo, para realmente mostrar a cara do Brasil, um país de todos, sem donos e amarras que não permitem uma ascensão social.
Rebeca Andrade é essa expressão brasileira, da dança, da graça, da batalha contra as agruras da vida, da superação das cirurgias no joelho que ameaçaram sua carreira e que graças ao esporte conseguiu ajudar a família, mesmo que para isso tenha que ter os deixado aos 9 anos, para morar no Rio de Janeiro e iniciar uma das mais brilhantes carreiras da história do esporte brasileiro.
E são histórias inspiradoras como a de Rebeca, que um dia queria ser como Daiane dos Santos, a gaúcha campeã mundial do solo, que devem mover quem tem a responsabilidade de gerir o esporte, mas não só no alto rendimento. É necessário ampliar o investimento no esporte escolar para que tenhamos outras Rebecas, Daianes ou Alison dos Santos.
E mesmo que esses meninos e meninas não se tornem campeões, com certeza o esporte os tornará cidadãos que poderão contribuir para um Brasil que tem muito a progredir como sociedade que valoriza o todo e não apenas alguns privilegiados.