Rebeca Andrade nem bem recebeu a inédita medalha de ouro no individual geral para um brasileiro do Mundial de Liverpool e já era parabenizada por todos. Enquanto tentava agradecer às tantas mensagens de parabéns no celular e os aplausos das arquibancadas, a atleta de Guarulhos falou da emoção de subir no topo do pódio na mais nobre prova da ginástica artística.
"Muito orgulhosa", como fez questão de frisar, revelou que os planos para o futuro são de "seguir fazendo história." Com enorme humildade e sem conseguir segurar a euforia, Rebeca Andrade falou ao SporTV sobre o que estava sentindo logo após ouvir o Hino Nacional e ser ovacionada em Liverpool, já com a medalha dourada no pescoço.
— Significa todo o meu trabalho, da equipe multidisciplinar, das equipes que treinam comigo, que dão apoio. Estou muito orgulhosa de mim e de todas que se apresentaram, sei que trabalham muito também — afirmou.
Diferentemente do que muitos pensam em disputas individuais, Rebeca garantiu que não fica pensando no que as concorrentes estão fazendo, tampouco torcendo contra.
— É um orgulho enorme — repetiu, antes de completar:
— Eu trabalho com minha psicóloga para ficar tranquila e concentrada, não gosto de pensar sobre o que as outras estão fazendo e sim no que eu tenho de fazer. Sei que não tenho de inventar nada novo, já treinei, procuro apenas respirar fundo e fazer.
Bem em todos os aparelhos na final, Rebeca não escondeu que ainda sofre com a trave. Mas se divertiu ao avaliar o desempenho desta quinta-feira.
— Tive alguns 'arranca rabos' com ela, mas fui até o final. Trave é um teste de coração. Mas senti em mim que estava bem, vejo quando estou evoluindo — afirmou Rebeca Andrade.
Futura psicóloga, Rebeca deu uma grande lição a quem sonha em se destacar no esporte: faça seu trabalho bem-feito, sem precisar torcer pelo tropeço dos outros.
— Não percebo as meninas abaladas. Vejo-as fazendo, mas sigo muito concentrada nos meus pensamentos. Se elas se sentem abaladas, não devo ligar, preciso só pensar em fazer o meu melhor. Se ficamos pensando nos outros, não pensamos no nosso e isso pode atrapalhar — disse.
Fim do Baile de Favela
Rebeca Andrade vai iniciar em 2023 um novo ciclo na ginástica artística, e Baile de Favela não estará mais no repertório do solo. Ela dá adeus à música que a consagrou com ouro e muita satisfação.
— Serviu para mostrar do que sou capaz, estou orgulhosa por levar essa música ao mundo todo, e é muito difícil me despedir dela. Vou buscar uma série que represente o que essa representou. O público levanta. No Brasil, o povo entende a dificuldade dos atletas, da pessoa preta, e de alguma forma busca ajudar. Eu tive muita ajuda no início, os vizinhos emprestavam dinheiro, tinha de pegar condução... Isso representa a história da minha vida. Sei quem eu sou e sonho continuar fazendo história — destacou a ginasta.
Após o solo, a organização mostrou uma nota 12,901, que na verdade era o que Rebeca precisava pelo ouro. Por "não enxergar", garante não ter se assustado.
— Soltaram e logo tiraram e quando veio a minha nota todo mundo gritar. Se fosse, paciência, e tudo bem. Mas foi maior e fiquei muito feliz — celebrou, antes de mandar uma mensagem de agradecimento ao país:
— Gostaria de mandar beijos a todos os fãs, aos torcedores, ao povo todo que estava torcendo. Quero agradecer minha família pelas orações, a Deus por poder estar aqui, por me permitir mesmo com as tantas lesões, levar alegria e orgulho ao Brasil. É isso, amo vocês.