Distante 373 quilômetros da capital Porto Alegre, Panambi, no Noroeste, tem como força motriz a chamada indústria do pós-colheita, concentrando a fabricação de silos utilizados no armazenamento da safra de grãos. A pujança fabril ainda abarca empresas de referência nos setores metalmecânico e de movimentação de cargas. Do PIB do município, 41% vêm da indústria, quase toda ela ligada ao agronegócio. Somente 8% vêm da agricultura, segundo a prefeitura.
— É um dos municípios mais desenvolvidos do Estado, com mais intensidade industrial per capita do que Caxias. É fabricação de silos, de máquinas... É um polo — analisa o economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Antônio da Luz.
— Tem uma frase que diz que Panambi é a Caxias de alguns anos atrás, ou a Caxias do futuro. Acaba atraindo muita mão de obra permanente. Tem um indicador que fala que, de todo grão produzido no Brasil, cerca de 60% a 70% passa por algum equipamento fabricado em Panambi — acrescenta o prefeito do município, Daniel Hinnah.
Uma das maiores fabricante de silos agrícolas do mundo, a gigante Kepler Weber é exemplo da indústria regional. As estruturas de armazenagem de grãos são peças fundamentais na cadeia do agro. Mais do que silos, são “cofres” onde o produtor guarda a sua produção, exemplifica o gerente de produção e manutenção na empresa, Daniel Wasem Freitas.
Junto com outras cinco empresas mantenedoras, a Kepler integra um hub de inovação em Panambi para fomentar a tecnologia e criar um ambiente para os jovens terem oportunidade de emprego e permanecerem na cidade.
— Falta mão de obra e por isso temos feito parcerias de formação. Temos menores aprendizes, custeamos bolsas, da mesma forma que temos parcerias com as universidades locais. Procuramos dar um caminho, um plano de carreira para que as pessoas permaneçam aqui. Hoje, aproximadamente 70% da gestão da empresa é formada dentro de casa — destaca Fabiano Schneider, diretor industrial e de produto da Kepler Weber.
Segundo a Emater, o Rio Grande do Sul colheu 19,5 milhões de toneladas de soja na última safra. O volume ficou abaixo da projeção inicial de 22,2 milhões de toneladas — que seria um recorde — em função do excesso de chuva, mas ainda assim está entre as maiores colheitas já registradas no Estado.
Uma cidade movida a grãos
Referência regional no Norte, Passo Fundo estampa em sua paisagem a marca de onde desembarca o dinheiro do agro. O adensamento urbano cresceu expressivamente na última década, com prédios e ruas movimentadas que contrastam com as lavouras do entorno.
A cara de cidade grande, diz o secretário de Desenvolvimento Econômico do município, Diorges Oliveira, é efeito de uma matriz diversificada de desenvolvimento. Passo Fundo concentra hoje o principal cluster de óleos vegetais do Estado, além de universidades, hub de inovação, parque tecnológico e serviços complexos, como hospitais de referência.
— O campo aqui é muito forte, mesmo não abrigando as maiores áreas de plantio. Mas quando falamos numa mesorregião de 144 municípios, num raio de 150km, a atividade principal é o agro. E tudo transborda em Passo Fundo. Aqui temos grandes recebedoras de grãos e é daqui que saem as notas fiscais. As grandes trades de cerealistas estão aqui recebendo esse produto e isso nos dá outra dimensão econômica — diz o secretário.
De oitava economia do Rio Grande do Sul, o município assumiu a sexta posição, com um PIB que era de R$ 10 bilhões em 2020 e em 2021 foi de R$ 12,5 bilhões. Quase a totalidade do valor bruto gerado em Passo Fundo vem da indústria, do comércio e dos serviços. Como em muitos municípios, a queda nos repasses de tributos será inevitável no pós-enchente, o que exigirá ainda mais suporte indireto do setor agropecuário.
No meio da cadeia entre o produtor e a indústria, a Tonial Cereais está entre as líderes como recebedora de grãos. A empresa armazena e comercializa a produção dos agricultores, em função semelhante à desempenhada pelas cooperativas, só que no ramo privado. São seis unidades geridas pelo grupo em Passo Fundo e outros três municípios da região — Coxilha, Vista Alegre e Getúlio Vargas, com capacidade estática total para 2 milhões de sacas de grãos.
— A renda do município e da região é baseada onde está a terra. Isso não significa, necessariamente, que a produção vai ficar neste local. Onde o produtor entrega a produção é onde se gera o desenvolvimento econômico — diz o diretor da empresa, Renan Tonial.
A operação gera movimentação de tributos, empregos e uma série de outros serviços relacionados. Mesmo com a crise da enchente, a região não parou de receber grãos dos produtores. A inviabilidade das estradas, logo que se deram os alagamentos, afetou parte do escoamento, mas sem interromper o transporte por completo.
Presidente da Portos RS, Cristiano Klinger, lembra que as operações no porto de Rio Grande, para onde escoa parte da produção, foram mantidas mesmo no pico da enchente. O volume de movimentação no terminal teve crescimento no último mês, mantendo um comportamento já esperado para um encerramento de safra.
— Seguimos monitorando como se comportará nos próximos meses. Mas, ao que tudo indica, temos uma normalidade — diz Klinger.
Passo Fundo é uma cidade movida a grão. Embora quem esteja lá talvez não tenha essa clareza por não ser do campo, a indústria se instala onde tem produção para ela.
ANTÔNIO DA LUZ
Economista-chefe da Farsul
Ainda que parte significativa da soja tenha como destino a exportação, o recurso que ela gera retorna e circula nos municípios. São bilhões que entram anualmente pelos portos e que se transformam em insumos comprados localmente, em salários e em outros serviços. Por isso, o superintendente do Senar-RS, Eduardo Condorelli, reforça a importância do setor como protagonista na recuperação do Estado:
— Quanto maior o setor, maior é a quantidade de pessoas na zona urbana no entorno de atividades que sirvam ao agro. Uma safra robusta demanda mais caminhões, mais motoristas, mais abastecimento, frentistas, borracheiros e um sem-fim de gente que emite notas fiscais.