Todas as quintas-feiras, por volta das 16h, um documento espécie de inventário do campo cai na caixa de e-mail de milhares de pessoas. Os destinatários vão de agricultores a instituições financeiras e órgãos internacionais, numa abrangência que vai muito além do mundo rural. Completando 35 anos de elaboração ininterrupta neste 21 de junho, o Conjuntural da Emater é fonte rica de informação e testemunho histórico do interior agrícola gaúcho.
Os informes são elaborados a muitas mãos. Começam na esfera municipal, juntando relatos de produtores coletados direto a campo pelos extensionistas da empresa pública. Um degrau acima, passam para a esfera regional, em etapa que compila as informações em abrangência mais ampla. Por fim, chegam ao escritório central, onde são amarrados de forma unificada e de onde são disparados como um resumo semanal do que acontece na atividade agropecuária estadual.
Os relatos detalhados descrevem semanalmente a evolução das culturas, os problemas ou sucessos enfrentados pelos agricultores e até os preços praticados em determinados produtos agrícolas. As informações anotadas também são registros fiéis do tempo e incluem dados de precipitação, incidência de sol e condições gerais do clima.
— Não sei se todos os agricultores sabem da sua existência, mas para fins de conhecer como está a realidade das culturas, é muito importante consultar. Se torna uma ferramenta para pensar além da propriedade — diz Willian Heintze, agrônomo e extensionista rural no escritório municipal de Nova Pádua que há pelo menos nove anos se dedica ao relatório.
Fora da porteira, a relevância do informe é de ordem econômica. O Conjuntural é ferramenta validada pelo Banco Central para análises de seguro como o Proagro. Também é instrumento de decisão para laudos de peritos. Na comunicação, fornece à imprensa dados que embasam reportagens e inúmeras abordagens sobre o setor agropecuário.
— É um rol tão diferente de pessoas que consomem este produto. Temos em nossa base de cadastrados desde o produtor rural até o ministério da agricultura dos Estados Unidos e consultorias das mais diversas. Instituições financeiras às vezes ligam para saber informações específicas para contratos — relata Alice Schwade, editora do Conjuntural e extensionista da Emater em Porto Alegre.
A consolidação dos boletins ao longo dos últimos 35 anos acompanha a evolução da própria maneira de fazê-lo. Nem sempre o envio foi por e-mail, e mesmo o processo de elaboração passou por mudanças. Enio Todeschini, coordenador na Regional de Caxias do Sul, que abrange 49 municípios, diz que a publicação do material na internet reforça o seu alcance.
— A principal mudança é a que os meios de comunicação proporcionaram. Antes, tudo era feito via telefone convencional, mesmo a troca de informação entre os colegas. Hoje, além de outros meios como WhatsApp e e-mail, temos a busca na internet para pesquisar e elaborar outros dados — diz o coordenador, há quase duas décadas na função da regional.
Para o diretor técnico da Emater, Claudinei Baldissera, o futuro reserva maior abrangência:
— A capilaridade da Emater permite uma precisão e um grau de assertividade muito grande. Temos um horizonte de qualificá-lo para ser cada vez mais uma peça de prospecção de planejamento no curto, médio e longo prazo. O Conjuntural é uma divulgação pública e a disciplina de publicá-lo faz ele ser esta linha do tempo e um registro histórico.
Cinco marcos do Conjuntural
- 1989 - Primeiras edições do Conjuntural nascem para veiculação exclusivamente interna. Magda Limberger Tonial, gerente de planejamento da Emater, conta que o material era impresso nos 210 escritórios existentes naquele ano.
- 1999 - Inaugurada a era da internet, a veiculação passa a ser externa, disponível no site da instituição e com distribuição eletrônica para diversos meios.
- 2018 - Um incêndio na sede da Emater, em Porto Alegre, quase comprometeu a divulgação. Mesmo com o sinistro, o material nunca deixou de ser publicado.
- 2020 - A pandemia impôs um novo marco na coleta das informações. Os aplicativos de mensagem e as chamadas de vídeo permitiram que os contatos fossem mantidos.
- 2024 - Conjuntural celebra 35 anos de edições ininterruptas e se consolida como referência em informações sobre a atividade agropecuária.