O Gaúcha Atualidade desta sexta-feira (4) visitou Cachoeira do Sul, na Região Central, e Passo Fundo, no Norte, dois dos municípios que simbolizam a angústia causada pela estiagem que castiga o Estado. Produtores, lideranças locais e integrantes do poder público relataram os problemas e debateram possíveis soluções durante o programa.
Somente na soja, cultura com maior área, as perdas estão em 49% em Cachoeira do Sul, segundo levantamento da prefeitura em parceria com a Emater e outros órgãos. Em Passo Fundo, a estimativa de quebra deve ficar na casa dos 40%, conforme o sindicato rural.
Em Cachoeira do Sul, Andressa Xavier e Gisele Loeblein apresentaram o programa no sindicato rural do município. Rosane de Oliveira ficou em Passo Fundo, no Gare Estação Gastronômica, no centro da cidade. Na quinta-feira (3), o Gaúcha Atualidade visitou Santo Ângelo, no Noroeste, e Tupanciretã, na Região Central.
O secretário da Agricultura e Pecuária e presidente do Sindicato Rural de Cachoeira do Sul, Fernando Cantarelli Machado, afirmou que a falta de chuva regular nos últimos anos também impacta nas lavouras que trabalham com irrigação :
— As lavouras que têm barragem própria para irrigação não estão conseguindo ter água suficiente para irrigar toda a lavoura. Em detrimento de uma área para tentar chegar no final do ciclo da cultura da outra, eles estão deixando parte da lavoura sem irrigar. Ou seja, vai ser uma perda de 100% para poder salvar essa outra parte.
Machado salientou que os danos causados nas lavouras acabam se espraiando para outros setores e cadeias ligadas ao agronegócio e que dependem do produtor capitalizado ou de volume suficiente de produto:
— Atrás disso, vem toda uma cadeia do agronegócio, que é indústria, que vai ter 30% menos produtos para industrializar. Depois, às vezes, na prateleira, esse produto certamente para o consumidor também vai ter um preço acima.
Machado afirmou que avançar nos processos de irrigação é uma das soluções para amenizar e prevenir problemas causados pela estiagem. Nesse sentido, citou a necessidade de debater a flexibilização da legislação ambiental, que permita a produção e a conservação do meio ambiente.
Já o produtor Julio Cesar Marques, que atua na agricultura familiar, afirmou que, além da falta de chuva, a temperatura elevada registrada no Estado também prejudica as lavouras. Marques trabalha com plantações de diversas culturas, como alface, repolho, couve e batata doce.
— A planta simplesmente não aguenta. Não adianta pôr água. Nós irrigávamos duas, três vezes ao dia, praticamente jogando água fora — relatou.
O produtor destacou que a estiagem acelera o processo de êxodo rural entre os jovens, pois desestimula a economia que vem do campo. Nesse cenário, eles acabam migrando para os centros urbanos atrás de emprego.
Passo Fundo
O coordenador regional da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag), Nauro Nizzola, informou que as dificuldades causadas pela estiagem são ainda maiores na agricultura familiar em Passo Fundo.
— O próprio preço da soja e do milho estão em patamares nunca vistos antes na história. Quando se fala nesses preços altos e não tem produção, a dificuldade aumenta. Porque quem trabalha com atividade de leite, mas também atua com soja e milho, acaba fazendo a troca do milho e da soja por farelo e ração. Quando você não tem essa matéria-prima que é afetada pela estiagem, tem que adquirir esse produto e não tem o retorno que precisa para rentabilidade e sustento da família — afirmou Nizzola.
O coordenador regional da Fetag destacou a necessidade de ajuda dos governos federal e estadual no combate aos efeitos da estiagem. Renegociação e prorrogação de financiamentos, linhas especiais de crédito e ações de fortalecimento no fornecimento de milho estão entre as reivindicações.
O professor da Universidade de Passo Fundo (UPF) Mauro Rizzardi, que também é engenheiro agrônomo e doutor em Agronomia, afirmou que é necessário avançar em melhorias na estrutura do solo. Rizzardi avalia que, além de pensar em barragens e irrigação, é importante pensar e trabalhar na conservação da água no solo. Plantio direto, conservação de palha no sistema e agregar macroporos e microporos no solo podem ajudar nesse sentido, segundo o engenheiro agrônomo.
— Cada vez mais nós devemos buscar, através da pesquisa, a melhoria da estruturação do solo, melhorando a conservação.