Após cerca de três horas de reunião, apontada anteriormente como decisiva, o Ministério Público estendeu o prazo do debate na busca por solução envolvendo o uso do herbicida 2,4-D. Sugestões apontadas por MP, técnicos e produtores foram apresentadas aos representantes da indústria no encontro. Promotor de Justiça responsável pelo inquérito civil que trata do tema, Alexandre Saltz, informou que as fabricantes terão 10 dias para definir se vão acatar ou não os apontamentos. A criação de um fundo de reparação está entre as medidas negociadas.
— A ideia é no sentido de ordenar o uso do 2,4-D em alguns locais onde já há evidência de contaminação e fazer ações intensivas de educação para o uso do produto, além da constituição de um fundo de reparação que vai permitir que o Estado tenha condições de fiscalizar a aplicação.
Uma das ideias do promotor é promover ações da indústria e do comércio na garantia da aplicação do produto conforme está orientado na bula. Saltz reafirmou que seguirá buscando uma saída por meio do diálogo, mas não descarta nenhuma das possibilidades, como eventual encaminhamento pela suspensão da aplicação do herbicida. No entanto, ele destacou que pretende esgotar o debate antes de qualquer decisão.
A audiência ocorreu a portas fechadas no Palácio do MP-RS, no centro de Porto Alegre, e sem a presença da imprensa. Além de integrantes da indústria, representantes das culturas afetadas, da Secretaria da Agricultura e da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) marcaram presença. Do lado de fora do recinto, o tom de voz elevado de alguns participantes, beirando uma discussão mais belicosa, mesclava com momentos de calmaria.
Helio Marchioro, conselheiro do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), entende que a audiência foi produtiva e defende ações da indústria no enfrentamento do problema:
— Não tem mais como aceitar a continuidade do uso do produto em todo o Estado do jeito que está. Se a indústria se responsabiliza por solução do problema, ela precisa adotar uma atitude — afirmou.
Domingos Antonio Velho Lopes, membro da diretoria da Farsul afirmou que a reunião foi "extremamente positiva e com resultados excelentes". Lopes destacou que não pode dar mais detalhes sobre o encontro, pois o promotor ficou encarregado do pronunciamento.
As tentativas de achar uma solução para o impasse se arrastam desde o início do ano. Os agricultores dos ramos de uva, azeitonas e maçãs reclamam da deriva do herbicida, que teriam impactando em perdas na produção. O químico é utilizado por sojicultores para eliminar a erva-daninha conhecida como buva. Saltz afirma que tenta um encaminhamento antes do início da aplicação do herbicida, mas que isso não é o único objetivo:
— Não posso deixar de discutir ao limite a construção de um acordo baseado em um calendário de aplicação do produto, quando a gente está buscando justamente uma solução consensual.
O MP seguiu na mediação do assunto após tentativas fracassadas de um acordo entre as partes, encerradas em janeiro. Desde então, o governo do Estado apresentou um pacote com oito propostas para enfrentar o problema sem a necessidade de suspender a aplicação do 2,4-D. O Palácio Piratini também montou um grupo de trabalho para tratar do assunto. A primeira reunião com colegiado deixou boa impressão entre os interessados, mas a falta de uma definição mais contundente somada ao cada vez mais curto prazo preocupa os produtores afetados. Provocado pelo MP em 23 de abril a enviar posicionamento sobre o caso em até 30 dias, o governo não respondeu no prazo e deve participar de uma reunião com o MP na segunda-feira (3).