A possibilidade de produzir laranjas de maio a outubro, em alguns casos, em novembro, amplia a vantagem da Serra em relação a outras localidades do Estado. Em geral, a partir de junho os pomares entram na entressafra no Rio Grande do Sul. A colheita estendida contribui para a liderança da região na produção, responsável por 80% das variedades de mesa do Rio Grande do Sul.
— O grande trunfo da Serra é a produção tardia. Isso ocorre essencialmente por conta do clima mais frio. Alguns produtores optam por plantar para colher de agosto em diante — destaca Enio Todeschini, engenheiro agrônomo da Emater de Caxias do Sul.
Como consequência, a produção na entressafra garante incremento na renda dos fruticultores. O produtor Clemente Valandro, da comunidade de São Miguel, no interior de Farroupilha, só cultiva variedades tardias de laranja em seus 15 hectares de pomares. Enquanto a maioria se prepara para colher, Valandro ainda está fazendo adubação e roçada em sua área.
— Cheguei a cultivar caqui e uva, mas desisti. Pelo nosso clima na Serra resolvi plantar só laranja e bergamota tardia. Vem dando certo — diz Valandro.
O agricultor deve produzir em torno de 400 toneladas de setembro a novembro. Segundo ele, o preço do quilo das variedades tardias fica na faixa de R$ 1,50 a R$ 2, mais do que o dobro da colhida entre o outono e o inverno.
Guaporé, Antonio Prado e Caxias do Sul lideram
Em razão da colheita estendida, os números da safra serrana ainda podem oscilar dependendo de como for o inverno, segundo Todeschini. A ocorrência de granizo ou geada pode influenciar o resultado. No momento, a tendência é de que a leve diminuição no número de frutos em relação à safra passada seja compensada pelo maior calibre (diâmetro) das laranjas.
Nos municípios que lideram a produção de laranjas na Serra, casos de Guaporé e Antônio Prado, a colheita deve avançar mais fortemente entre maio e junho. Situação semelhante ocorre na maioria das propriedades de Caxias do Sul, município que fecha a lista das três maiores produtoras da fruta na região. Ao todo, as três localidades respondem por aproximadamente 55% da safra serrana, conforme dados da Emater.
Agricultura familiar predomina na produção
A região da Serra deve colher 19 mil toneladas da fruta, segundo estimativa do escritório da Emater em Caxias do Sul.
O número fica dentro da média histórica e se assemelha ao volume de 19,5 mil toneladas do ano passado. Na região, são 870 produtores na atividade, com área plantada de 1,2 mil hectares. Boa parte dos fruticultores provém da agricultura familiar, com média de um a dois hectares. Esse é o caso de Eleandro Razadori, que cultiva menos de um hectare em Caravaggio da Terceira Légua, no interior de Caxias do Sul.
Razadori foi um dos primeiros produtores a iniciar a colheita de 2019 ainda no início de abril. Neste ano, ele deve obter em torno de cinco toneladas de laranja do céu, variedade que ocupa quase toda a área plantada em sua propriedade. O carro-chefe do produtor é a uva, mas ele decidiu apostar na laranja para ter uma alternativa de renda extra e também pela facilidade no manejo.
— O bom da laranja é que não coincide com a safra da uva e praticamente não temos despesa. É só manter limpo o pomar e o que Deus manda, nós colhemos. Não aplicamos nenhum produto — diz.
O destino da produção dos Razadori costuma ser o Ponto de Safra, feira realizada semanalmente em Caxias. Além disso, uma parcela das frutas é vendida para supermercados da região.