Cozido ou assado na chapa do fogão, o pinhão é a estrela no inverno. Dados da Emater na regional de Caxias do Sul indicam que a extração será 10% superior a do ano passado, principalmente nos Campos de Cima da Serra – que concentra boa parte da produção. Maior produtor do Estado, o município de São Francisco de Paula deverá coletar entre 160 e 190 toneladas. No Rio Grande do Sul, a previsão é de uma safra de mil toneladas de pinhão, com qualidade considerada boa.
– O peso das pinhas varia de dois a três quilos. Isso indica uma safra de qualidade – informa a engenheira florestal da Emater Adelaide Kegler Ramos.
A extração é feita manualmente, por meio da coleta das sementes no solo, quando os pinhões caem naturalmente com a maturação, ou pela derrubada das pinhas utilizando-se como ferramenta a vara de bambu, ou ainda, subindo nos galhos dos pinheiros com o auxílio de esporas. A extração começou oficialmente dia 15 de abril e segue até o final do inverno. Devido à maturação das pinhas em épocas diferentes, é possível colher a semente até setembro.
Além de ser um alimento característico da região, também representa importante fonte de renda. É o caso da família Silva, de Jaquirana. Diamantina Jesus Silva, 75 anos, criou seus seis filhos com a venda de pinhão. Dona Tina, como é conhecida, sai de casa duas vezes ao dia, se aventura pela mata e anda por cerca de 10 quilômetros para catar os pinhões que caem das araucárias. Na atividade desde criança, conhece o caminho das pinhas como ninguém.
– Esta aqui produz os mais graúdos – explica dona Tina, referindo-se a uma araucária de grande porte.
Na fazenda onde mora há mais de 70 anos, existem centenas delas. Dona Tina coleta, em média, 30 quilos por dia. Quando os filhos ou netos a acompanham, a recompensa é a sapecada de pinhão. Aos pés de uma das árvores, ela recolhe grimpas do chão, distribui pinhões no meio delas e coloca fogo. Quando a chama se extingue, a semente está pronta para ser saboreada.
– Caminhar na mata e pelos campos me dá prazer. Além disso, continua sendo uma renda extra. A gente respeita a natureza e ela nos respeita. Não troco por nada – garante dona Tina.
O pinhão pode ser consumido de várias formas. Da sapecada até bolos, pudins e outros pratos mais elaborados, como a paçoca e o entrevero. Na Serra, é uma opção gastronômica muito apreciada.
Produção é vendida de maneira informal
O comércio é praticamente todo informal. Parte feito diretamente pelos extrativistas em diferentes mercados locais: à beira da estrada, mercados, restaurantes e de casa em casa. No entanto, a maior parte da produção ainda é vendida por meio de intermediários, que levam o produto para os centros maiores como as Ceasas de Porto Alegre e Caxias do Sul, e também para outros Estados.
– Há poucas ações de beneficiamento, industrialização e conservação do pinhão, o que restringe em muito o período e os volumes de comercialização – explica Adelaide.
Os preços praticados pelos produtores na região variam de R$ 3,50 a R$ 5 o quilo. Nos supermercados e fruteiras, varia de R$ 5,80 a R$ 9 o quilo.
A maior parte do pinhão é negociada in natura. Em alguns casos, as sementes são comercializadas cozidas ou então processadas na forma moída ou de paçoca. O processamento agrega valor ao produto. A paçoca, por exemplo, é vendida ao preço médio de R$ 17 o quilo.
Curiosidades
- Uma araucária pode produzir até cem pinhas a partir dos 12 anos.
- Numa boa safra, cada pinha produz em média até 150 pinhões.
- A araucária tem espécies macho e fêmea, descobertas na fase adulta. A que produz pinhões é a fêmea.
- O pinhão tem valor nutritivo por conter vitaminas A, C e E, além de minerais, como cálcio e fósforo.
- É um alimento sem glúten, com baixo índice glicêmico e altos teores de proteínas, fibras alimentares e amido.
- Cada semente tem, em média, 20 calorias. O ideal é consumir sete por dia, no máximo.