Principal pesquisador científico da British American Tobacco, controladora da Souza Cruz no Brasil, o britânico David O'Reilly esteve no Brasil em março e falou sobre os dispositivos eletrônicos de fumar – chamados pela empresa de produtos de nova geração. A principal característica é ausência total de combustão, o que, alega a empresa, reduziria os riscos à saúde.
Por que esta geração de cigarros é inovadora quando comparada aos convencionais?
A maior parte dos fumantes quer deixar de fumar porque entende os riscos à saúde. Fumantes morrem prematuramente em razão das doenças causadas pelo cigarro. Durante décadas, a British American Tobacco tem buscado alternativas mais saudáveis para os consumidores que querem parar de fumar. O vício em nicotina não é o causador de câncer ou das doenças cardíacas e respiratórias. Elas são causadas pela combustão.
Fumantes buscam a nicotina. Ela está presente nos dois tipos de cigarros.
Contudo, para utilizar a nicotina em cigarros comuns é necessário atear fogo às folhas de tabaco e respirar até os pulmões, o que chamamos de produtos de combustão. Na fumaça dos cigarros existem centenas de substâncias prejudiciais ou potencialmente prejudiciais e que causam doenças. A nicotina consumida nos níveis que usamos é relativamente segura, mas causa dependência.
Quais são os riscos desses novos produtos?
Autoridades de saúde pública independentes no Reino Unido, na Europa e nos EUA, baseadas na ciência médica disponível, acreditam que nosso produto é aproximadamente 95% menos prejudicial do que o cigarro. Não perfeitamente saudável, mas muito mais seguro do que o cigarro.
Mas não existe consenso científico sobre o tema?
Mais pesquisas são necessárias. Já existem estudos suficientes sobre os cigarros eletrônicos (a vapor) para apoiar os dados de que são 95% mais seguros. Precisamos de mais informações sobre os produtos de tabaco aquecido. Pouquíssimos órgãos científicos independentes se manifestaram sobre o tema. Estamos organizando testes de longo prazo com humanos. Temos um número crescente de estudos por organizações independentes, e precisamos disso. Todos necessitam da ciência independente. Não pode ser apenas da Souza Cruz ou dos nossos concorrentes.
O que motiva as indústrias a desenvolverem estes produtos?
É muito simples. É o futuro! Ainda venderemos cigarros por muitos e muitos anos, mas esse é o futuro do negócio. Achamos que, por volta de 2030, a parcela correspondente a esses produtos será de 30%, e que até 2050 será mais da metade, ou ainda mais. E há uma competição. Queremos ser os melhores, em ajudar os fumantes a substituírem os cigarros por produtos mais saudáveis. É uma competição acirrada e queremos ganhar. Então, investiremos bilhões de dólares em pesquisa, desenvolvimento e comercialização.
Quais são os desafios?
O primeiro é que os governos autorizem que estes produtos sejam vendidos, e a comunicação sobre a ciência por trás deles deve ser bem feita, acessível a todos. O segundo é que os consumidores devem entender que é mais seguro do que o tradicional. Existem muitas histórias que são baseadas em alguns estudos científicos que sugerem às pessoas que estes produtos são tão prejudiciais à saúde como os cigarros comuns. Mas isso não é verdade. O terceiro desafio para nós, como indústria, é o de criar produtos que possam competir com cigarros em termos de satisfação. E por satisfação não quero dizer apenas a nicotina, mas o sabor.
O futuro das empresas do tabaco são, então, os dispositivos eletrônicos?
Será de ambos (convencionais e eletrônicos) por algum tempo, e, no futuro, 2050, permanecerá de ambos, mas estaremos vendendo mais destes novos produtos do que os cigarros comuns. As proporções serão invertidas. Por volta do meio do século, acreditamos que venderemos mais destes cigarros do que os convencionais.
TIRE SUAS DÚVIDAS
Mercado mundial
A fabricação e venda de dispositivos eletrônicos de fumar é permitida em mercados como China, Estados Unidos, Reino Unido e Japão. Os americanos são os maiores consumidores mundiais de cigarros eletrônicos (vaporizadores), enquanto os japoneses lideram o consumo de tabaco aquecido. Em nações como Dinamarca e França, a venda é legalizada, mas com uma série de medidas restritivas, como o controle de publicidade.
Proibição no Brasil
A venda, a importação e a propaganda de qualquer dispositivo eletrônico para fumar são proibidas pela Anvisa, segundo a Resolução RDC 46/2009.
Motivo da restrição
Segundo a Anvisa, os cigarros eletrônicos são proibidos no Brasil pelo fato de serem vendidos prometendo ser um tratamento para cessação do tabagismo, um produto sem riscos à saúde e que poderia ser utilizado em ambientes fechados. Nenhuma destas alegações foi devidamente comprovada, conforme a agência reguladora.
Riscos à saúde
As indústrias de tabaco alegam, com base em estudos independentes, que os vaporizadores são 95% menos danosos à saúde do que os cigarros convencionais – por não gerarem combustão e terem menos substâncias tóxicas. Já os produtos de tabaco aquecido ainda têm poucas pesquisas científicas, enfrentando resistência maior de órgãos reguladores de saúde no mundo.
Possibilidade de liberação
Consultas públicas e outros debates poderão levar a uma nova resolução da agência. Além da coleta de informações e avaliação de dados científicos, o exame das normas na Anvisa segue os trâmites estabelecidos nas boas práticas regulatórias. Conforme a agência, a revisão da diretriz depende do avanço do conhecimento sobre o produto. Não há previsão de eventual liberação.