Se você nunca ouviu falar em intercooperação, prepare-se para escutar muito essa palavra daqui para frente. De um princípio básico do cooperativismo, tornou-se um caminho praticamente obrigatório para aumento da competitividade em um mercado cada vez mais globalizado. Em curva ascendente nas cooperativas agropecuárias, as parcerias vão da integração de processos industriais, compras coletivas de produtos a investimentos conjuntos – deixando a competição de lado.
Por meio de uma central de compras, a RedeAgro congrega 20 cooperativas para aquisição de mercadorias em grande quantidade para abastecer 125 supermercados. Com sede em Soledade, no norte do Estado, a rede funciona de forma online, com três funcionários.
– As cooperativas comunicam os produtos que precisam, e fazemos pedidos coletivos, com margem maior para negociação de preço. A entrega é feita diretamente no depósito de cada associada – explica Gelso Manica, presidente da RedeAgro e vice-presidente da Coagrisol Cooperativa Agroindustrial.
Quando criada, em 2013, a rede somou R$ 5 milhões em compras coletivas. Em 2017, a projeção é chegar a R$ 75 milhões – cerca de 8% do faturamento total dos supermercados, de R$ 900 milhões. Com desconto médio de 3% nos pedidos, a economia para as associadas neste ano chegará a R$ 2,25 milhões.
– É um modelo que deu certo, por isso queremos ampliá-lo – revela Manica.
Em 2018, a RedeAgro pretende incluir nas compras coletivas insumos básicos para as cooperativas, como sementes, adubos, defensivos e produtos veterinários. Outro plano é fazer parcerias com cooperativas de transporte para reduzir os custos com logística.
– Para dar certo, é preciso deixar de olhar para o próprio umbigo e trabalhar de forma conjunta – resume o presidente da RedeAgro.
Indústria amplia variedade de produtos no mercado
A Cooperativa Piá, de Nova Petrópolis, na Serra, lançará 10 novos produtos até o fim do ano – todos frutos da intercooperação. Nos próximos dias, chegará ao mercado uma manteiga em tablete da marca Piá, fabricada na unidade industrial da Cooperativa Sul-Rio-Grandense de Laticínios (Cosulati), em Pelotas.
– O volume do produto não justificaria o investimento em uma linha própria de manteiga – explica Marcelo Wendling, diretor financeiro da Piá, fabricante de leite UHT e derivados, como requeijão, doce de leite, iogurtes e bebidas lácteas.
Mesmo produzindo a manteiga a 350 quilômetros de distância de Nova Petrópolis, caminho percorrido pela matéria-prima até Pelotas, a eliminação do custo interno de produção compensará, diz Wendling. Usando o mesmo cálculo, a cooperativa decidiu terceirizar também a fabricação de leite em pó, creme de leite e leite condensado. Esse último item será fabricado pela Castrolanda Cooperativa Agroindustrial, em Castro (PR).
– São produtos que ajudarão a aumentar nosso faturamento sem fazer grandes investimentos – argumenta Wendling.
A adoção do modelo será cada vez mais visível nos processos industriais, justamente para reduzir custos de produção e aumentar a competitividade, considera Paulo Pires, presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (Fecoagro-RS).
– É um caminho necessário para as cooperativas. E só é competitivo quem é extremamente eficiente em seus processos – argumenta Pires.
O dirigente da Fecoagro vai além, prevendo parcerias inclusive entre marcas de produtos semelhantes.
– A concentração de grandes empresas vai nos obrigar a sermos cada vez mais fortes no mercado – resume.
Cotrijuc e Camnpal investem em conjunto
Com parte dos sócios em comum, e vizinhas na região de atuação, a Cooperativa Agropecuária Júlio de Castilhos (Cotrijuc) e a Cooperativa Agrícola Mista Nova Palma (Camnpal) decidiram se unir em vez de competir. Embora já tenham parceria em uma unidade de recebimento de grãos, fortaleceram a integração ao concretizarem investimento conjunto.
Próximo ao limite dos municípios, na região central do Estado, as cooperativas estão construindo silos com capacidade estática para armazenar até 100 mil sacas. A obra, de R$ 4,5 milhões e financiada pelo Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), estará pronta para operar na próxima safra de verão.
Desde 2004, a Cotrijuc e a Camnpal mantêm unidade conjunta no distrito de Val de Serra, em Júlio de Castilhos. Os resultados, reduzindo custos logísticos aos associados, motivaram as cooperativas a ampliarem a integração. A intenção agora, segundo Caio Vianna, presidente da Cotrijuc, é dividir igualmente o faturamento da unidade – independentemente de quem receber mais grãos de seus associados.
– Como o investimento é meio a meio, estamos conversando para que possamos operar dessa forma também – revela Vianna.
Além de dividir o investimento, a parceria foi benéfica para evitar concorrência entre as vizinhas em um local onde os sócios de ambas reivindicavam uma unidade de recebimento, conta o presidente da Camnpal, Euclides Vestena:
– Encontramos uma solução conjunta, nos unindo em vez de batermos de frente. Ficamos mais fortes também para competir com outras empresas do setor – diz.
A Camnpal trabalha ainda com outras cooperativas – na produção de leite UHT e em pó, farinha de milho, massas e doces de frutas.