A menor área plantada e o fenômeno El Niño reduzem a estimativa da produção de tabaco na safra 2015/2016 no Rio Grande do Sul e no país e, consequentemente, devem impactar nas exportações. No período atual, o cultivo está estimado em 131,97 mil hectares no Estado e 271,07 mil no Brasil, enquanto em 2014/2015 foram 148,28 mil hectares e 308,26 mil hectares, respectivamente. Na atual safra, a produção gaúcha deve ficar em 270,83 mil toneladas e a brasileira em 588,59 mil toneladas, enquanto na anterior foi de 330,94 mil toneladas no Estado e 697,65 mil no Brasil, retração de 18,2% e 15,6%, respectivamente. Os dados são da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra).
A variação do clima afetou a lavoura de fumo de Gerson Alexander, 44 anos, de Rio Pardinho, no interior de Santa Cruz do Sul, que deverá concluir a colheita nesta semana. Durante o período de cultivo, a cultura passou por duas enchentes.
- A água lavou o adubo e afogou boa parte das plantas - relata Alexander, estimando perdas de 40% da produção.
O rendimento médio tem sido de 105 arrobas (cada arroba equivale a 15 quilos) por hectare. Na safra passada, a produtividade foi de 150 arrobas por hectare. Para compensar as perdas, Alexander espera receber um preço maior pelo produto neste ano.
- Pelo menos a qualidade do tabaco tem sido boa, de uma maneira geral - completa o fumicultor, que cultiva outros 30 hectares de milho e soja.
Negociações em andamento
A redução da colheita no Estado ainda não foi contabilizada nas estimativas de vendas externas, assim como os preços praticados. Iro Shünke, presidente do Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco), lembra que as vendas são realizadas diretamente entre as indústrias locais e os compradores internacionais e que as negociações para esta safra estão apenas começando. Ainda não se sabe se será possível recuperar as perdas monetárias de 2015, quando houve uma redução de 19,5% nos preços na exportação e pequeno avanço no volume, que passou de 514 mil toneladas em 2014 para 517 mil toneladas em 2015.
- As empresas negociaram para ganhar competitividade lá fora, já que produtores de outros países praticam valores menores. Com o menor preço, o setor embarcou também o restante de estoque de 2014. Essa redução foi possível com a alta do dólar, que compensou em parte as perdas. Além disso, ampliamos o volume embarcado, o que fortalece o país no mercado internacional - detalha Shünke.
Entraves para a competitividade
Infraestrutura precária, falta de modais alternativos, de recursos e de servidores em órgãos de comércio exterior, além das tarifas portuárias e obtenção de certificados fitossanitários afetam a indústria de fumo.
Iro Shünke, presidente do Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco), relata a falta de estrutura no porto de Rio Grande e problemas decorrentes de greves de transportadores, por exemplo. Desde 2014, outro tributo impacta sobre a indústria que opera pelo porto gaúcho. A alfândega da receita federal determinou que 100% dos contêineres de exportação fossem submetidos à inspeção não invasiva por scanner. O valor é de R$ 185 por contêiner. Com isso, o tabaco, que exportou 20,8 mil contêineres no ano passado, desembolsou cerca de R$ 4 milhões. Shünke informa que os portos de Santa Catarina, Paraná e São Paulo submetem à inspeção não invasiva somente os contêineres indicados pela fiscalização.
- Fizemos alguns movimentos para reverter essa taxa, inclusive conversamos com outros setores e via Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), mas não houve avanço - afirma Shünke.
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Redução de safra é compensada pela qualidade e maior valor
O impacto da colheita menor vem sendo compensado em parte pelo preço médio que vem sendo praticado pelas empresas. A estimativa da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) é de que nesta safra os preços aumentem 23%. As negociações estão em pleno andamento entre produtores e indústria e as informações preliminares confirmam o índice.
- Os preços aumentaram em função da oferta menor e maior demanda e, embora o clima tenha afetado a quantidade produzida, não prejudicou a qualidade - afirma Benício Werner, presidente da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra).
Os produtores gaúchos de fumo tiveram uma redução de 18,2% na safra atual. No Brasil, a queda foi de 15,6%. Mas, no Vale do Rio Pardo, especialmente nos municípios de Venâncio Aires, Santa Cruz do Sul, Cachoeira do Sul, Rio Pardo e Candelária, o El Niño levou a uma perda estimada em 25%.
Para indenizar parte dos danos com o granizo, a Afubra tem disponível R$ 120 milhões, do Socorro Mútuo, que garante a cobertura de prejuízos causados pelo clima na lavoura e nas estufas de cura de tabaco. De acordo com levantamento da entidade, foram 37.425 produtores atingidos nos três Estados do Sul, sendo 20.117 somente no Rio Grande do Sul, ou seja, 54% do total.
- Em 40 anos de Afubra, não lembro de prejuízo maior - lamenta Werner.
No programa, o produtor inscreve a lavoura por número de pés plantados e os técnicos designados pela entidade avaliam o total de folhas perdidas. Neste ano, o fundo cobrirá em torno de 55% do preço de venda, o que é considerado por Werner como suficiente para cobrir os custos.
Além do fator clima, que reduziu a colheita, os fumicultores plantaram uma área 11% menor nesta safra, medida adotada como forma de adequar a demanda à oferta.
Preço mínimo indefinido
Depois de duas rodadas de negociação sem uma definição, até o final de janeiro, os fumicultores pretendem voltar a se reunir com as indústrias para discutir preço mínimo.
Na prática, os índices de reajuste oscilam de empresa para empresa, que variam de 9,3% a 12%, conta Mauro Flores, presidente da Comissão do Fumo da Farsul. Mas os fumicultores propõem 17,7%, sendo 12,8% de reposição do preço da safra 2015/2016 e 4,9% referentes a perdas da safra anterior.
No ano passado, o reajuste médio do fumo pago ao agricultor foi de 6,4%. Como o percentual ficou abaixo do esperado, em maio do ano passado a Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), a Afubra e a Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag) se reuniram com os produtores e recomendaram a redução da área plantada de 12% de virgínia, que na prática diminuiu 6%. Para a variedade burley, a proposta foi a mesma cumprida: a área plantada reduziu em 20%.