Pouco a pouco, os cultivares de bananas tradicionais do Litoral Norte vêm dividindo espaço com espécies que prometem ser mais resistentes a doenças e com menor custo de produção: a BRS platina, híbrida da banana prata, e a BRS princesa, do tipo maçã. Desenvolvidas pela Embrapa Mandioca e Fruticultura (Cruz das Almas, BA), Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), e implantadas em parceria com a Emater/RS, as espécies foram recomendadas oficialmente em 2014, após testes em 23 variedades da fruta.
Além da melhor adaptação à região, buscou-se testar as menos vulneráveis a pragas. Após, foram realizadas degustações para testar a percepção do consumidor. Até o momento, foram comercializadas 100 mil mudas da platina, segundo a Multiplanta, biofábrica licenciada pela Embrapa, em 60 hectares de área no Estado.
- Há produtores bastante satisfeitos com a platina e outros receosos. É que o sistema de produção precisa seguir recomendações específicas de manejo, como colheita antecipada em relação à prata anã e temperatura de 15ºC na maduração, um grau a menos que a similar. Os que estão seguindo as orientações têm sucesso - detalha Edson Perito Amorim, líder do programa de melhoramento genético de bananeira da Embrapa Mandioca e Fruticultura.
Segundo o técnico, a platina é a única resistente ao mal do Panamá e, com as chuvas, a doença deve incidir com mais intensidade.
A doença e a Sigatoka-amarela, outro fungo comum na região, podem reduzir a produção em 30%. Enquanto a primeira não é combatida por produto químico, a Sigatoka-amarela pode ser eliminada por fungicida, o que exige mão de obra, aquisição do insumo, além de impactar no ambiente.
São justamente o custo de produção e a falta de pessoal as principais limitações para ampliar a produção. Antônio Conte, engenheiro agrônomo e coordenador da Fruticultura da Emater, informa que a cultivar ocupa 11,6 mil hectares no Estado, sendo 11 hectares - quase a totalidade - no Litoral.
- As novas variedades podem ajudar a expandir a produção - destaca Conte.
Um dos entraves para ampliar a produção da platina e da princesa é a dificuldade na hora de negociar. É o que conta o produtor e comerciante Paulo José Hoffmann Valim, de Morrinhos do Sul.
- Como é difícil vender para supermercados, faço a venda direta em fruteiras na estrada - diz.
Para ampliar a produção, hoje de cem pés de platina e 300 mudas de princesa, Valim vai esperar uma melhor aceitação do mercado.
Princesa substitui a tradicional maçã
Enquanto os testes da platina começaram há mais tempo, a utilização da cultivar princesa é mais recente, com distribuição em 2014.
- É uma cultivar com demanda crescente. Exige menos adubo e água, o que reduz o custo de produção em relação à maçã - explica o técnico da Embrapa.
Há dois meses, foram distribuídas 15 mil mudas. Neste e nos próximos meses, os técnicos da Embrapa e Emater acompanharão o desenvolvimento da fruta nas propriedades. Embora o mal do Panamá possa incidir sobre a variedade princesa, afeta bem menos o varietal do que afeta a maçã, que está praticamente exterminada no Rio Grande do Sul, pela sua grande suscetividade à doença.
- Vale a pena investir nas espécies pela qualidade e sanidade - reforça Amorim.
Platina ocupa áreas da prata
A preocupação com a perda de uma área plantada com banana prata acometida pelo mal do Panamá foi substituída pela satisfação de uma colheita a pleno da BRS Platina, resistente à praga. O produtor Milton Hahn Hendler, de Morrinhos do Sul, no Litoral Norte, decidiu apostar na variedade quando viu parte de sua plantação ser exterminada pela doença. O projeto, iniciado há dois anos, já traz resultados. Hoje, 500 mudas estão em plena produção e outras mil foram plantadas no final de 2015.
A cada 20 dias, o produtor vai à Ceasa comercializar entre 30 e 40 caixas da platina, vendidas pelo mesmo preço da banana prata, cujas características de sabor e aspecto são semelhantes. Para conservar a fruta, o produtor a mantém na propriedade em uma câmara climatizada em uma temperatura de 15º C até madurar, seguindo a orientação da Embrapa.
Na plantação, o produtor, de 58 anos, conta com a ajuda do filho Fabiano, de 32 anos e, eventualmente, da esposa, Teresinha.
A propriedade de 10 hectares produz ainda quatro hectares de banana, entre a prata e a caturra.
Caso haja incidência de doenças, Hendler é categórico: substituirá a prata pela platina. Entre as vantagens, o agricultor destaca a necessidade de menor tratamento da planta, redução do uso de adubo, do uso de óleo mineral, e a consequente menor dependência mão de obra. Estes fatores deixam a plantação até 40% mais em conta e, na hora da venda, a caixa é negociada pelo mesmo valor da prata: R$ 24. Ou seja, é lucro certo.