Enquanto cidades do Sul do país decretam estado de emergência por excesso de chuva, regiões do Centro-Oeste e do Nordeste clamam por precipitações após meses de estiagem. A seca prolongada fez o Ministério da Agricultura postergar para janeiro o período de plantio da soja em Mato Grosso e em Goiás - onde as plantas não conseguem brotar por escassez de água.
O que falta lá em cima sobra aqui embaixo. Em algumas cidades gaúchas, choveu mais de 200 milímetros nos últimos dias. O excesso de umidade começa a preocupar produtores de soja, especialmente aqueles que ainda não terminaram o plantio, a grande maioria em áreas mais baixas.
- O produtor não consegue entrar nas lavouras com as máquinas, a chuva não tem permitido - confirma Décio Teixeira, presidente da Associação dos Produtores de Soja do Rio Grande do Sul (Aprosoja-RS).
Antes do Natal, normalmente 100% da soja já estaria semeada no Estado. Neste ano, a entidade estima que pelo menos 10% da área esteja comprometida, por replantio ou atraso no calendário. As regiões da Campanha e da Fronteira, com terrenos mais planos, são as mais afetadas.
O excesso de chuva provoca também baixa luminosidade para o desenvolvimento das plantas e erosão do solo, além de prejudicar os tratos culturais - como a aplicação de defensivos agrícolas.
Na semana passada, foi confirmado em análises laboratoriais o aparecimento dos primeiros casos de ferrugem em lavouras de soja do Rio Grande do Sul.
- A umidade tende a fazer com que a pressão de doenças e pragas seja maior nesta safra - completa Teixeira.
Por enquanto, os efeitos na agricultura do fenômeno El Niño, um dos mais intensos da história, são maiores no Centro-Oeste e no Matopiba, região agrícola formada por Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
Em algumas lavouras, os danos são considerados irreversíveis. A alteração no calendário de plantio deverá retardar a colheita, prejudicando também a tradicional safrinha de milho.
A esperança para 2016 é de que instabilidade do tempo seja menos severa do que a da economia. Caso contrário, será uma combinação desastrosa para o Brasil.