A velocidade dos investimentos em tecnologia que ajudaram a projetar a maior safra de grãos do Estado será controlada, a partir de agora, com olhar mais apurado. Os negócios fechados na 16ª Expodireto Cotrijal, na última semana, anteciparam o comportamento que deve ditar o ritmo do agronegócio neste ano.
Antes de investir em insumos, máquinas ou armazéns, os cálculos deverão ser feitos para se adequar ao novo cenário econômico, com custos de produção maiores e juro mais alto.
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Ao apostar em armazenagem, agricultores entram para um grupo seleto daqueles que têm silos próprios para estocar a produção. Hoje, só 16% do volume produzido no país é guardado nas propriedades, conforme a Carlos Cogo Consultoria Agroeconômica. Nos Estados Unidos, chega a 56%.
Valdir Sartori e os filhos Maurício (à esquerda na foto) e Alexandre compraram a estrutura para armazenagem de grãos em Não-Me-Toque (Foto Diogo Zanatta / Especial)
Nesta safra, a família Sartori, de Almirante Tamandaré do Sul, estreou o primeiro silo, comprado na Expodireto de 2014. O sistema levou um ano para ficar pronto. A estrutura, que custou R$ 250 mil, pode armazenar 15 mil sacas de soja, mais de 30% da colheita prevista para este ano na propriedade.
- Só a economia que teremos com frete nesta época e com as despesas de secagem e limpeza do grão pagará o investimento em pouco tempo - prevê Alexandre Sartori, 38 anos, que administra a propriedade com o pai, Valdir, 68 anos, e o irmão Maurício, 23 anos.
Na Expodireto 2015, compraram outro silo, igual ao recém-instalado.
- Agora que começamos a investir, vamos até o fim para, um dia, armazenar 100% da produção - frisa Alexandre, que financiou o novo silo pelo Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), com juro anual de 4% e 15 anos para pagar.
Criado em 2013, com previsão de orçamento anual de R$ 5 bilhões por cinco anos, o PCA permitiu financiar todo o sistema - do silo à estrutura complementar. Antes, com juro maior, o crédito só cobria 50% do valor do silo. A nova linha fez as fabricantes faturarem. Só as vendas da Kepler Weber, de Panambi, subiram 60% em dois anos.
- O produtor passou a demandar mais silos. Antes do PCA, grande parte dos negócios era com cerealistas e cooperativas - lembra Tadeu Vino, superintendente comercial.
A Engegran, também de Panambi, triplicou o faturamento desde 2013.
- O único problema é a burocracia. Temos estruturas vendidas da Expodireto do ano passado que ainda não foram construídas - reclama Lirio Dessbesell, diretor comercial da empresa.
As queixas sobre demora e burocracia são reforçadas pelos produtores.
- O processo é muito lento. Demoramos meses para conseguir cada licença necessária - critica Alexandre.
Principal agente financeiro do PCA, o Banco do Brasil (BB) contesta.
- É um investimento mais complexo do que uma máquina. Envolve desde parte elétrica até a ambiental - explica João Paulo Comerlato, gerente de mercado agronegócio do BB no Estado.
Apesar do déficit, os financiamentos contratados em 2014 para conclusão neste ano farão crescer em mais 2 milhões de toneladas a capacidade de armazenagem do Estado, estima a Carlos Cogo Consultoria Agroeconômica. No país, o déficit ultrapassa 40 milhões de toneladas - diferença de 27% entre capacidade e produção.
Ganhos: menor gasto com transporte da safra e economia na limpeza e secagem dos grãos em armazéns de terceiros.
Fique atento: o controle das condições do produto armazenado deve ser constante para não prejudicar a qualidade.
Nos grãos, tecnologia e produtividade são principal foco
Arno Costa Beber pretende qualificar funcionários para melhorar o manejo (Foto Diogo Zanatta / Especial)
Apesar do clima favorável e da iminente safra recorde de grãos, o cenário de instabilidade econômica acende uma luz de alerta no semáforo das lavouras gaúchas: custo de produção. Juro mais alto e aumento nos preços da energia elétrica e dos combustíveis somam-se à alta do dólar, que impacta no valor dos insumos. Por isso, será preciso mais cuidado na hora de investir o bom resultado da colheita:
- O produtor não pode fazer investimentos olhando para o retrovisor, mas para frente - diz o assistente técnico estadual da Emater, Alencar Rugeri.
Com agricultura de precisão em toda a área e irrigação em 65%, o produtor Arno Costa Beber, 45 anos, colheu na última safra 61 sacas de soja por hectare - 42% a mais do que a média estadual. Para este ano, a expectativa é de obter uma média ainda superior: 70 sacas por hectare.
Apesar do bom resultado nas lavouras, que somam 2 mil hectares em Condor, Palmeira das Missões, Santo Augusto e Ijuí, no Noroeste, Beber planeja deixar em segundo plano a compra de máquinas e caminhões devido à instabilidade econômica:
- O ano será focado em reduzir custos, já que tudo aumentou. Vou investir em tecnologia, para a produtividade crescer, e na qualificação de funcionários, para garantir melhor manejo.
A procura por tecnologia, uma das marcas tradicionais da Expodireto, deixou as empresas do setor animadas. O gerente regional de soja da Monsanto, Tales Pezzini, explica que, apesar do aumento no custo de produção, os agricultores não devem economizar em insumos visando maior rendimento por hectare:
- Neste ano, muitos estão buscando novas cultivares e tecnologias para melhor controle de pragas.
Sobre o perfil da próxima safra de verão, diante do sucesso da atual, há perspectiva de que a soja, que teve área 2,8% maior do que em 2014, conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), ganhe ainda mais espaço no Estado. De acordo com Rugeri, caso a boa produtividade se confirme, o grão pode conquistar áreas de pecuária e até de arroz.
Ganhos: uso da tecnologia e manejo adequado das lavouras ampliam o rendimento.
Fique atento: alta no custo da produção exige mais cautela na hora de investir.
Máquinas no pêndulo do juro
Aproveitando taxa atrativa e buscando mais eficiência, Diego Roberto Pias decidiu investir em um pulverizador (Foto Diogo Zanatta, Especial)
Com máquinas e implementos agrícolas praticamente renovados nos últimos anos, o produtor Diego Roberto Pias, 25 anos, completou a frota ao comprar um pulverizador na Expodireto Cotrijal, em Não-MeToque. O investimento de R$ 440 mil foi motivado pela necessidade e, especialmente, pela oportunidade.
- Não sabemos como vão ficar as taxas daqui para frente - destacou Diego, que trabalha ao lado do pai, João Luiz Assis Pias, 54 anos.
O equipamento foi comprado pela linha de financiamento Moderfrota, ainda com juro de 4,5% ao ano. Se a mesma compra tivesse sido feita com juro de 7,5%, que será o novo custo do programa, o pulverizador iria custar R$ 60 mil a mais.
Com 300 hectares de soja e 80 hectares de milho cultivados em Palmeira das Missões, no noroeste do Estado, pai e filho tinham um pulverizador antigo, de 1995. O novo equipamento tem eficiência duas vezes maior na aplicação de defensivos ou fertilizantes. Ou seja, o trabalho que antes levava uma hora será feito em 20 minutos.
- Isso significa economia de óleo diesel e de mão de obra - destaca Pias, lembrando que os custos de produção terão crescimento considerável no próximo ciclo.
O resultado dos negócios obtidos durante a Expodireto é um termômetro de como deverá ser o ano. E, mesmo com previsão de uma retração nas vendas em 2015, o setor de máquinas e implementos agrícolas prevê um período de bons negócios.
- Sentiremos um pouco a baixa nas vendas, mas ainda iremos sofrer menos do que outros setores da indústria - estima Claudio Bier, presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas do Rio Grande do Sul (Simers).
Um dos pontos que promete dar fôlego é a perspectiva de colheita recorde de grãos no Rio Grande do Sul nesta safra - deve ultrapassar 30 milhões de toneladas, segundo a Emater. Outro fator é o preço da soja, valorizado pelo aumento na cotação do dólar no câmbio brasileiro.
- No momento em que a economia está parada, qualquer venda deve ser comemorada - pondera Bier.
A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) apontou queda de 24,9% na venda de máquinas agrícolas no primeiro bimestre deste ano em relação a 2014. Nos dois primeiros meses de 2015, as indústrias de máquinas e implementos agrícolas ainda reduziram a produção em 27,4%, na comparação com o mesmo período do ano passado.
Apesar disso, há expectativa de que os juros ainda competitivos contribuam para uma leve recuperação do setor durante o primeiro semestre do ano.
- Ainda há crédito a juro reduzido. Aquele produtor que precisa renovar algo, e fez as contas, deve aproveitar - frisa o economista da Federação da Agricultura no Estado (Farsul), Antônio da Luz
Ganhos: a garantia de crédito a juro reduzido ainda é uma oportunidade para quem pretende investir.
Fique atento: independentemente do juro, é preciso fazer as contas e planejar para não ser surpreendido.
Irrigação mais ágil
Foto Diogo Zanatta, Especial
A preocupação em investir na irrigação segue no horizonte, apesar de não ter faltado chuva nesta safra. Presidente da Comissão de Irrigantes da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), João Augusto Telles destaca, no entanto, que a burocracia para implantar o sistema e a recente alta no preço da energia são fatores que podem frear investimentos:
- A safra é boa, mas a alta na energia poderá fazer o produtor repensar.
Outro desafio é a elevação do juro: a taxa de 4% vai só até 30 de junho. Apesar de preocupar, o cenário é visto como oportunidade para e expandir, segundo Telles, os atuais 180 mil hectares irrigados no Estado.
- Quem quer comprar vai acabar aproveitando o primeiro semestre - diz Siegfried Kwast, diretor-superintendente da Fockink, de Panambi.
Principal programa de incentivo à irrigação gaúcha, o Mais Água, Mais Renda foi criado em 2012. De acordo com o governo do Estado, recebeu 2,4 mil projetos para irrigar
70 mil hectares. Atualmente, 400 propostas aguardam análise ou estão em fase de avaliação.
De acordo com Telles, para que a irrigação avance mais, será preciso aumentar os limites de área contemplados pelo programa e acelerar a análise dos pedidos protocolados.
- A ideia é buscar a ampliação e dar agilidade com remanejo de servidores para avaliar projetos - diz o secretário de Agricultura, Ernani Polo.
Ganhos: deixa o produtor menos dependente das variações climáticas e aumenta
a produtividade.
Fique atento: a alta na tarifa de energia elétrica deve ser levada em conta ao
usar os equipamentos.
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