O momento é de transição. Não é apenas o calendário que muda na passagem de 2014 para 2015. Novas configurações políticas alteram o cenário estadual e nacional, ampliando o espaço para a expectativa.
Peça fundamental no quebra-cabeça da economia, o agronegócio tem pela frente um ano desafiador. A combinação de custos em alta e commodities menos valorizadas irá encolher os rendimentos dos produtores, exigindo maior controle e equilíbrio das contas.
A coluna fez um balanço de temas que marcaram o ano de 2014 e outros que devem pautar as discussões de 2015. Líderes e especialistas do setor também fazem sua avaliação sobre o que é necessário para que essas questões avancem.
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O que marcou 2014
Frustração no trigo
Depois do recorde em 2013, o produtor de trigo esperava obter bons resultados em 2014. Mas o excesso de umidade e calor trouxeram doenças como giberela e brusone. A produção encolheu 45%. Além disso, o alto teor de micotoxinas impediu o uso de quase 1 milhão de toneladas para moagem e ração. A solução foi exportar o grão para países da África e da Ásia, com padrões de controle alimentar menos rigorosos.
Hamilton Jardim, presidente da Comissão de Trigo da Farsul
É preciso haver vontade política, com preço mínimo remunerador ao alto custo de produção e um seguro efetivo.
Conflito pela terra
A tensão provocada pela discussão sobre demarcações de terra no norte do Estado se transformou em violência em Faxinalzinho. Em 28 de abril, os agricultores Alcemar e Anderson Batista de Souza acabaram mortos. Cinco índios foram presos por suspeita de participação no crime. A questão segue sem uma solução capaz de atender as demandas tantos dos indígenas quanto dos agricultores.
Cleonice Back, coordenadora da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do Estado (Fetraf-RS)
Ambas as partes querem resolver o conflito. Esperamos retomar o diálogo.
Fraude no leite
Duas novas etapas da Leite Compen$ado, do Ministério Público Estadual, revelaram que o alimento seguia sendo adulterado - em 2013, haviam sido cinco operações. Também houve ação da Polícia Federal que apurou a conduta de servidores do Ministério da Agricultura - um foi preso e quatro, afastados. Outra crise atingiu o setor e continua afetando produtores gaúchos e catarinenses. Cerca de 7 mil têm pagamentos a receber de empresas por leite entregue.
Mauro Rockenbach, promotor de Justiça
O ponto crucial é a fiscalização, hoje insuficiente. É preciso ajustar o número de fiscais e agentes ao de estabelecimentos. Multas e sanções administrativas também precisam ser revistas.
O que vai pautar 2015
Seguro rural
A Federação da Agricultura do Estado (Farsul) elegeu o tema como a grande bandeira em 2015. O objetivo é aprimorar o sistema existente, considerado capenga. A reivindicação é para que o seguro cubra o custo de produção das lavouras - hoje, nas subvenções públicas, as indenizações são inferiores a 50% do custo total.
Bruno Kelly, professor da Escola Nacional de Seguros
Não há dá para imaginar um modelo de sucesso sem a participação do governo, principalmente na oferta da subvenção. Isso e a adequação do produto são os grandes desafios.
Futuro do Marfrig
A decisão sobre manter ou não em funcionamento o frigorífico de bovinos da Marfrig em Alegrete ficou para 2015. O anúncio da suspensão das atividades, em agosto de 2014, mobilizou o Estado. Foi criado um grupo de negociação com o governo, que sinalizou as concessões possíveis. A unidade - atualmente com 645 funcionários e abate médio diário de 500 animais - entra em férias coletivas de 5 de janeiro a 5 de fevereiro.
Pedro Piffero, presidente do Sindicato Rural de Alegrete
Acho que se houver vontade, se resolve. Minha preocupação é que o pessoal da empresa saiu do ar. Mercado tem. A oferta de gado está reduzida para todo mundo, não só para a Marfrig.
Cadastro ambiental
Exigência do novo Código Florestal, o Cadastro Ambiental Rural (CAR) tem prazo para ser realizado: maio de 2015, podendo ser prorrogado por um ano. A partir de 2017, será pré-requisito para obtenção de crédito. A falta de regras específicas para o Bioma Pampa colocou o CAR em modo de espera no Rio Grande do Sul. A Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Estado (Fetag-RS) suspendeu o cadastramento até abril.
Carlos Joel da Silva, vice-presidente da Fetag-RS
Entendemos e esperamos que o governo queira fazer o CAR deslanchar em 2015. É preciso ter mais clareza do que queremos do cadastro e o que acontecerá com o produtor.