Encolhida nos últimos anos pelo avanço da agricultura, a área de pecuária no país busca equilíbrio para ter alta produção, rentabilidade e preservação ambiental. Os três pilares são apontados pelo Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS) como o caminho para a atividade perdurar e atender à crescente demanda mundial por proteína animal. Criado em 2009, o GTPS reúne diferentes segmentos (como indústria, produtores, universidades e bancos) para buscar e aplicar modelos de trabalho a serem adotados pelo setor.
Presidente da associação, o engenheiro agrônomo Eduardo Bastos aponta a recuperação de áreas degradadas e a redução do desmatamento como desafios para a pecuária brasileira avançar. Confira entrevista concedida pelo executivo durante a Conferência Global de Carne Sustentável, em São Paulo.
Quais são os principais desafios a serem enfrentados pelo grupo no país?
Os três grandes desafios são melhorar a transferência de tecnologia e a extensão rural e conseguir recursos financeiros para fazer com que isso ocorra. Não é só melhorar o sistema produtivo de pecuária bovina de corte e de leite, mas também ajudar aqueles que podem, por lei, desmatar e não desmatam. Temos de achar diferentes maneiras de compensação ambiental.
Qual a abrangência dos programas?
Temos 72 membros em vários Estados e pelo menos 100 milhões de cabeças, o equivalente a metade do rebanho brasileiro. Nossa atuação mais forte é nas regiões do bioma Cerrado, Amazônia e Pantanal. Temos interesse em expandir para outros biomas - Caatinga, Pampa e Mata Atlântica. Buscamos parcerias também com grupos externos que têm interesse em aportar recursos aqui. Um dos projetos, o maior deles, é o Pecuária Sustentável na Prática, cofinanciado pelo governo holandês. São em torno de R$ 10 milhões (R$ 4 milhões por parte do governo da Holanda e R$ 6 milhões de parceiros). No total, são sete projetos em cinco estados brasileiros (Bahia, Roraima, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Pará), que abrangem aproximadamente 900 produtores e 800 mil hectares de pecuária.
Como é possível alcançar a chamada carne sustentável?
Talvez o maior desafio é produzir para um mundo cada vez mais demandante de proteína animal e, ao mesmo tempo, preservar. Hoje não dá para pensar só de um lado ou só de outro. Teremos de fazer isso ao mesmo tempo, com intensificação sustentável e ainda conseguir produzir mais em uma área que será menor, também por pressão de outras culturas que estão avançando no campo.
De que maneira isso pode ser feito? Como engajar produtores?
Uma das formas é por meio de fazendas-modelo, propriedades que representem a realidade daquele Estado ou município. Ajudamos a fazer toda a intervenção necessária para gerar rentabilidade. Com isso, poderemos obter mais qualidade ambiental e social e criar cadeias de valor que possam levar a prêmio ou a um preço melhor para o produtor. Isso para que ele veja o benefício de ter uma melhor gestão e, eventualmente, ganhos em preferência de compra de algum frigorífico ou alguma taxa menor para determinadas linhas de créditos e financimentos em bancos.
No Brasil, quais são os principais pontos a avançar?
Temos acordo com os ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente para recuperar 15 milhões de hectares de pastagens degradadas. Com isso, traremos de volta a capacidade produtiva de áreas que hoje são marginais.Outro desafio é reduzir o desmatamento com aumento de produtividade e menor pressão sobre novas áreas. O importante é produzir mais para esse mundo demandante. Estamos falando de 40% mais consumo de carne bovina nas próximas décadas. Ao menos metade virá do Brasil. Então, temos metade do desafio do mundo inteiro. Só isso já valeria a pena todo esse esforço.