Com 75% dos fertilizantes usados no país adquiridos no Exterior, o Brasil enfrenta o risco de aumentar a cada ano a importação do produto se não forem feitos novos investimentos na produção nacional. De acordo com a Rede BrasilFert, criada em 2009 pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para estudos na área, o país ainda precisa desenvolver uma política nacional sobre o assunto, como tem para outras atividades econômicas.
- Esse é um setor que requer altíssimos investimentos no processo de mineração e fabricação - explica José Carlos Polidoro, vice-líder da rede.
Em 2010, o governo federal chegou a elaborar o plano nacional de fertilizantes que, entretanto, não foi implementado. O projeto abrangia ações para incentivar investimentos no setor, com a meta de ampliar a produção nacional. O Brasil consome atualmente em torno de 32 milhões de toneladas de fertilizantes por ano, das quais 75% são importados, segundo a média dos últimos cinco anos. Os demais 25% são produzidos no Brasil, o que corresponde a cerca de 10 milhões de toneladas.
Polidoro explica que a tendência é aumentar o percentual de importação se não houver investimentos nacionais. Enquanto o mundo aumenta o consumo de fertilizantes anualmente em 2%, em média, o Brasil amplia em 4%.
- Nós somos o quarto maior consumidor mundial de fertilizantes - ressalta Polidoro, que é pesquidor da Embrapa Solos.
Ele explica, ainda, que a Rede BrasilFert tem como meta principal estimular e promover a inovação tecnológica em fertilizantes tanto no país quanto na América Latina. E reforçou que o mais importante é evitar desperdícios no uso desses produtos na agricultura: do total aplicado hoje nas lavouras brasileiras, em torno de 40% são perdidos de várias formas no solo por falta de tecnologia adequada.
- Quanto maior for a eficiência, menor será o custo da produção agrícola no país. Um dos desafios é zerar o desperdício - diz Polidoro.
Segundo o Ministério da Agricultura, há possibilidade de ser elaborado um novo plano nacional de fertilizantes ou implantar aquele criado em 2010.
A Rede BrasilFert
É um projeto financiado pelo programa de fortalecimento da Embrapa e liderado pela Embrapa Solos, com centro de pesquisa no Rio. O projeto conta com 300 pesquisadores, sendo metade da Embrapa e 50% de outros institutos de pesquisa, universidades e fundações de apoio ao desenvolvimento agropecuário de todo o Brasil.
Gargalos e alternativas
Existem várias fontes de nutrientes que não são utilizadas na indústria convencional de fertilizantes por limitações tecnológicas. Entre elas, fontes minerais e orgânicas, como a cama de frango (resíduos da produção de frango de corte).
A política nacional de resíduos sólidos determina, inclusive, que tenham destinação correta e não sejam depositadas no ambiente.
Se todos os resíduos orgânicos e minerais fossem aproveitados para a produção de fertilizantes, calcula a Rede BrasilFert, seria possível reduzir a importação. Até 20% da demanda poderia ser coberta com esses novos fertilizantes (como a cama de frango).
Entre 8 milhões e 9 milhões de toneladas de cama de frango são produzidas por ano no país. Se misturadas com outra parte de fertilizante convencional mineral, obtém-se fertilizante organomineral granulado e ecologicamente correto.
A Rede BrasilFert busca novas formas de produção a partir de fontes minerais que não são aproveitadas atualmente na indústria brasileira. Entre elas, estão o potássio e o fósforo, encontrados em várias regiões brasileiras - mas é preciso desenvolver processos químicos e biológicos que possibilitem o aproveitamento desses minerais.
Mapeamento do Ministério de Minas e Energia identificou que Pará e Mato Grosso estão entre os Estados que apresentam ocorrência dessas fontes minerais, mas necessitam de inovação tecnológica que permita a produção.
Fonte: Rede BrasilFert