Os 600 terneiros criados pelo produtor americano Leland Glass, no Estado do Kentucky, passam os dias em pastagens, à sombra de árvores e ao lado de lagoas, mamando sem pressa. A única maneira de conseguir ser mais natural do que isso, avalia o pecuarista, seria derrubando cercas. Glass cria terneiros para a Strauss Brands, empresa de processamento de carne. Da propriedade, sai a vitela vendida em lojas da Whole Foods e que aparece em cardápios em todas as regiões dos Estados Unidos.
Quase 25 % da vitela no país sai da Strauss, que tem evitado comprar carne de criadores que trabalham com métodos alvo de críticas de grupos de defesa dos animais. Nos EUA, terneiros passavam sua curta vida sozinhos, em pequenas espaços, confinados, alimentados com leite cheio de antibióticos e tomando hormônios. Atualmente, a maioria dos produtores de vitela abandonou essa prática e cria pequenos grupos de terneiros em áreas cercadas. Os animais são alimentados com uma fórmula à base de soro de leite com maior teor de ferro e têm acesso ao pasto.
- Comparativamente, o gado engordado no pasto tem vida melhor do que a maioria dos frangos e suínos que são criados para abate aqui nos EUA - diz Paul Shapiro, vice-presidente de proteção de animais de criação da Humane Society no país, embora reconheça que essas medidas não resolvem a aversão de alguns a comer animais jovens.
Na fazenda de Glass, os terneiros nem ficam em cercados.Em 900 hectares de pastagem, estão livres para andar, acompanham as vacas para mamar, alimentam-se da grama e já não recebem antibióticos nem hormônios. Outros pequenos pecuaristas também usam esse método de criação no pasto, mas a Strauss é a maior adepta da técnica nos EUA e já produz cerca de 5% de sua vitela desse modo.Executivo-chefe da Strauss Brands, Randy Strauss diz que o terneiro criado livremente "acabou com o estigma da vitela".
- Isso fez com que as pessoas se permitissem experimentar essa carne novamente - diz Strauss.
O consumo de vitela nos Estados Unidos ainda é baixo, resultado da divulgação de imagens de terneiros encaixotados sendo levados para restaurantes, onde virariam pratos feitos com vinho ou queijo parmesão. Em meados da década de 1970, os americanos comiam em torno de 1,5 quilo dessa carne por ano. Em 2013, a média foi de 150 gramas por pessoa.
- Para ser sincero, a rejeição do consumidor comum ainda não mudou muito - avalia Jurian Bartelse, ex-presidente da Associação Americana de Vitela.
Como é o sistema
Diferentes pecuaristas americanos estão trocando o confinamento (tradicional no país) pela criação de terneiros diretamente no campo, onde podem mamar e pastar vários tipos de capim, incluindo festuca, grama do pomar, centeio e trevo. O rebanho fica espalhado pelas pastagens, em volta de um celeiro principal. A ideia é tentar oferecer um ambiente tranquilo aos animais.
O produtor movimenta o rebanho uma vez a cada cinco dias, ou então passa alguns terneiros pelo curral do celeiro para que se acostumem com o local onde serão finalmente carregados para o transporte, na tentativa de diminuir a angústia do momento. A movimentação é mais fácil quando os animais não estão nervosos, afirma o criador americano Leland Glass.
O processo é realizado até que os terneiros tenham 30 semanas. Nessa idade, chegam a pesar entre 200 e 225 quilos e estão prontos para o abate. Antigamente, os terneiros eram abatidos mais jovens, às vezes com 12 semanas e pesando um pouco menos.
Glass diz que o método apela para o que ele chama de "limite moral", que geralmente falta na indústria da carne. Anteriormente, criava angus e gelbvieh, desmamados cedo, tratados com antibióticos e engordados em currais. Os terneiros criados para a Strauss são da raça limousin, ficam em pastagens e são acompanhados por suas mães até sair da fazenda - método que gerou elogios contidos de grupos dos direitos dos animais.
O compromisso da Strauss para melhorar a qualidade de vida dos terneiros reflete as mudanças na indústria para criar pelo menos uma base melhor para a padronização. Desde 2007, 70% dos produtores da Associação Americana de Vitela adotaram a prática de agrupar os terneiros, já obrigatória na Europa, e os outros prometeram converter o processo voluntariamente até 2017.
O animal criado solto tem sabor mais pronunciado do que aqueles alimentados só com leite, e cor mais rosada. Em geral, quanto mais ferro o terneiro recebe na alimentação, e quanto mais exercíco faz, mais vermelha fica a carne.