Um grupo de 16 gaúchos percorreu a trote quase 300 quilômetros em uma expedição no país em que o cavalo já foi a máquina de guerra mais poderosa - antes do uso da pólvora. Lá, o animal era dominado como em nenhum outro lugar do planeta. Situada entre a Rússia e a China, na Ásia, a Mongólia foi o destino escolhido pelos Cavaleiros da Paz para levar mensagens de integração entre os povos. Em uma região tradicionalmente habitada por nômades, em terras onde cercas para demarcar propriedades inexistem, encontraram semelhanças entre o ímpeto e a bravura dos mongóis e os gaúchos.
- Eles têm uma relação muito forte com o cavalo. Vivem e sobrevivem do animal, assim como era no passado aqui no Sul, no período dos tropeiros - conta Elizabeth Cirne Lima, integrante do grupo e criadora de bovinos devon e de cavalos crioulos.
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Nas estepes mongóis, um conjunto de planícies com poucas árvores, os gaúchos cavalgaram onde há 8 mil anos o cavalo é domesticado. Na Mongólia, são preservados animais selvagens da raça prezewalski - conhecida por lá como takhi -, quase extintos em boa parte do mundo.
- Os cavalos mongóis são muito resistentes, assim como os crioulos. O que muda é a estatura: não passam de 1,3 metro de altura - conta Dinho Fleck, também integrante do grupo.
O grupo, tipicamente pilchado e no lombo de cavalos mongóis, percorreu durante 11 dias territórios que foram palco de guerra em um dos paises menos povoados do mundo. São 2,9 milhões de habitantes espalhados por 1,6 milhão de quilômetros quadrados.
- A mesma "arma" usada na guerra é hoje o que nos une para representar a paz em povos distantes - define Maurício Junqueira, comandante do grupo.
Nas regiões nômades, os cavaleiros dos aventureiros gaúchos encontraram criações de cabras, ovelhas, cavalos e iaques (bovinos de pelos longos) - que servem de subsistência para os povos nômades. O leite para alimentação é tirado de cabras, éguas e vacas. Nesse período, verão no Hemisfério Norte, eles têm a chamada dieta branca, baseada nos derivados da bebida. Depois, com o frio de até 30 graus negativos, a produção primária é interrompida.
Recepção oficial reforçou laços entre os dois países
A facilidade dos habitantes da Mongólia em domar cavalos remonta ao passado em campos de batalhas, quando os arqueiros precisavam ficar com as mãos livres para poder manusear o equipamento. Sobre as quatro patas mais bem treinadas da época, conta-se no país que guerreiros e cavalos se fingiam de mortos para, no momento certo, atacar os inimigos.
As aptidões equestres chamam atenção até hoje e podem ser percebidas em massa durante o festival mais popular do país, o Nadaam. Realizado entre os dias 11 e 13 de julho, quando os Cavaleiros da Paz estavam na Mongólia, o festival tem luta livre, corrida de cavalos e competição de arco e flecha, atraindo milhares de pessoas.
- A doma dos cavalos mongóis é muito rústica. Lá, os animais são livres, como os homens. Eles costumam dizer: se os animais querem correr, deixem que corram - conta Maurício Junqueira, comandante do grupo.
No período em que estiveram na Ásia, o grupo foi recebido pela ministra da Cultura, Desporto e Turismo do país, Oyungerel Tsedevdamba. A visita ao país ocorre justamente quando se fortalecem as relações com o Brasil. No final de julho, foi instalada oficialmente a Embaixada da Mongólia no Brasil, inexistente até então.