Empresário do ramo da administração de créditos tributários e da indústria do arroz, Claudio Curi, 53 anos, queria se aposentar há três anos, quando pensou em investir em imóveis para garantir uma renda futura. Antes de começar a comprar apartamentos, foi atraído por outro investimento: cavalos crioulos. Os mais de R$ 10 milhões que seriam aplicados em 15 apartamentos na Capital foram direcionados à compra de éguas e de cotas de campeões e descendentes da raça.
No primeiro leilão de sua cabanha, a Lagoa do Sol, no começo do mês, Curi faturou R$ 3,2 milhões com a venda de 38 lotes de coberturas, prenhezes e animais. Descontados os custos com o evento, um remate luxuoso na Casa NTX, uma das mais badaladas de Porto Alegre, o lucro do empresário foi de cerca de R$ 2,5 milhões. Se o investimento fosse feito em imóveis, o lucro em um ano não passaria de R$ 1,26 milhão - rendimento de 1% ao mês que ele calcula que receberia em aluguéis.
- Com vendas particulares e remate de menor porte, quero alcançar receita anual próxima de R$ 4 milhões, três vezes maior do que conseguiria no setor imobiliário - compara Curi, natural de Pelotas e com cabanha em Santa Vitória do Palmar.
Os ganhos do empresário podem ser quantificados em éguas como Fuzarca do Itapororó, mãe da campeã do Freio de Ouro do ano passado (Oraca do Itaporó). Comprado há quatro meses por R$ 750 mil, a fêmea teve dois embriões arrematados no leilão por R$ 380 mil cada.
- Só com a venda desses dois embriões já paguei a égua (hoje com 17 anos), que poderá gerar duas crias anuais, até os 23 anos - calcula Curi, que tem hoje 280 éguas em cria, de um total de 500 animais da raça.
Atraídos pela possibilidade real de rendimento, empresários e profissionais como médicos, advogados e engenheiros são responsáveis por boa parte da valorização do mercado de cavalos crioulos no país na última década - quase 600%.
- Os investimentos na raça estão se diversificando, não se limitando mais a criadores ou produtores rurais - destaca José Luiz Laitano, vice-presidente de Comunicação e Marketing da Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos (ABCCC).
Conforme Laitano, a rentabilidade do negócio é o principal atrativo, reforçado pela presença cada vez maior da raça no país. Hoje, dos 240 mil cavalos crioulos registrados no Brasil, 35% são criados fora do Rio Grande do Sul. Há pouco mais de 10 anos, o percentual da raça em outros Estados não passava de 5%.
- Os grandes investimentos estão atrelados à visibilidade da raça, que ganhou notoriedade nacional e internacional. Há potencial de expansão em todo o Brasil, com valorização ainda maior. Com certeza, estamos longe do teto - avalia Laitano.
Bárbara convenceu o pai a investir nos animais e em competições. Foto: Nina Boeira, especial
Campeões aceleram o retorno financeiro
Competições da raça crioula são responsáveis por boa parte das cifras milionárias movimentadas em leilões. Grandes campeões do Freio de Ouro ou de Morfologia na Expointer, e seus descendentes, costumam receber os maiores lances. E sagrar vencedores acelera o retorno financeiro de quem aposta nos animais como um negócio.
Proprietário de uma empresa de transporte de cargas em Gravataí, Jefferson Casagrande, 49 anos, passou a investir na raça há dois anos. O primeiro animal, comprado em Lavras do Sul, por influência da filha Bárbara Casagrande, 24 anos, soma-se hoje a outros 50 exemplares, entre éguas e potros. Três animais deixaram a Agropecuária Casagrande recentemente para serem preparados em centros de treinamento voltados a competidores do Freio de Ouro.
- Queremos colocar nossos animais para se tornarem grandes campeões, por isso buscamos genética e funcionalidade - conta Casagrande, que pretende abrir nova cabanha no Maranhão, em parceira com um criador de cavalos mangalarga.
Com a orientação da filha, formanda em Medicina Veterinária, o empresário comprou cotas de machos importantes da raça para estruturar a cabanha.O maior investimento foi R$ 650 mil por um cota de 5% de JLS Hermoso, que bateu recorde com valorização superior a R$ 16 milhões.
- Não temos como pensar em fortalecer nosso negócio sem nos focar também nas competições da raça - destaca Bárbara, responsável pelo manejo e criação dos cavalos em Lavras do Sul.
Cautela reduz os riscos
Com a vantagem do desprendimento na hora de negociar cavalos em busca de rentabilidade, novos investidores na área precisam se valer de muitas informações antes de qualquer movimento.O conhecimento técnico costuma ser determinante:
- Todo negócio tem risco. No caso dos iniciantes, um deles é comprar o animal por pelagem ou aparência e depois não ter retorno - alerta Santiago Macedo, proprietário da Mape Leilões, escritório rural de Rio Grande.
Profissionais do setor recomendam que os compradores reúnam o máximo de informações antes de fechar qualquer negócio.
- Embora o feeling seja importante, é um mercado no qual não se pode entrar mal assessorado ou sem conhecimento - diz Fábio Crespo, da Crioulo Remates.
Outro fator de risco é ser um negócio que envolve ativos vivos. Para os animais mais valorizados, é indicado seguro de vida. Quem investe na raça afirma que a insegurança é recompensada pela liquidez do mercado.
- O cavalo crioulo é um ativo de valores baixos, médios e altos, conforme o perfil e objetivo de cada investidor - aponta o leiloeiro Marcelo Silva, diretor da Trajano Silva Remates.
O risco para o qual não existe proteção aos novos investidores, dizem no segmento, é um só: apaixonar-se pela raça e não conseguir abandonar a atividade.