Dois dados divulgados nesta quinta-feira, ligados ao setor agropecuário, são reveladores de como a atividade está cada vez mais focada na gestão e também do quanto é difícil ser produtivo no Brasil. Vamos aos fatos:
1) O rebanho gaúcho teve redução de 2,3% no número de bovinos, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mas sem redução no volume de carne produzida, segundo a Federação da Agricultura (Farsul).
2) As agroindústrias ligadas ao setor de carnes comemoraram a publicação, no Diário Oficial da União, de lei que corrige um problema de interpretação tributária que causa prejuízos milionários para a atividade.
O item número 1 é reflexo puro da união da produção de soja e da pecuária na mesma propriedade aliada à melhor gestão dos recursos e do manejo do gado. Pelo menos 500 mil hectares no Rio Grande do Sul, nos últimos cinco anos, passaram a ter esse uso duplo, calcula o economista da Farsul, Antônio da Luz.
O número de animais nas propriedades caiu em razão da soja, sim, mas o volume de carne produzida no Estado, não. Como? Com pecuaristas melhorando manejo, trabalhando mais com pastagem e engordando animais em menos tempo. E lucrando com a alta na cotação da soja e reinvestindo na propriedade.
Sinônimo da dificuldade de se produzir no Brasil é o que mostra o item número 2. Em resumo: ao comprar insumos como ração, as agroindústrias produtoras de carne tinham direito a créditos tributários de 60% sobre o que pagavam em PIS/Cofins, mas vinham conseguindo obter apenas 35% de créditos (pouco mais da metade do que de direito) e ainda podiam arcar com multas por erros que, na verdade, não haviam cometido, explica o coordenador assuntos legislativos e tributários da União Brasileira de Avicultura (Ubabef), Matheus Santin.
Questionado sobre o item 2 (dos créditos tributários), o economista da Farsul preferiu não comentar o assunto no dia de ontem. E explica a razão:
- Tudo que sai do Congresso eu só comento depois de ler bem atentamente. É tudo muito complicado de entender.
Questionado sobre quando os créditos tributários de 60% começariam a valer (no lugar dos errôneos 35% concedidos até então), Santin desabafa:
- Bah... ainda depende de uma instrução normativa ser publicada. Essa é uma briga que já dura cerca de três anos, de uma lei de 2004 e que já penalizou muita empresa - resume o executivo da Ubabef.
É possível ser eficiente e produtivo no Brasil? É. Mas que é uma tarefa árdua ninguém pode negar.