A escassez de produtos agrícolas, que podem funcionar como novas fontes de pressão sobre os preços e comprometer a meta de inflação, também tem merecido atenção especial do Banco Central (BC). Neste ano, a estimativa de colheita do feijão, alimento tradicional na mesa das famílias brasileiras, tem caído mês a mês, por conta da estiagem que compromete a lavoura na Região Nordeste, desde 2012.
O último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou uma redução de 2,1% na projeção da colheita neste ano, em relação à estimativa do mês anterior. Na primeira safra, a estiagem provocou uma redução significativa em Pernambuco (-18,9%) e Ceará (-38,1%), destacou o instituto.
Como efeito, o feijão carioca, o mais consumido no país, ficou 34,44% mais caro de janeiro a abril deste ano, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo IBGE. Apenas no mês passado, última estatística divulgada, a alta foi de 9,44%. O feijão figura entre os produtos de maior peso no grupo de alimentos no domicílio, dentro do indicador oficial de inflação do governo. O peso do feijão na estrutura do IPCA é de 0,31%, próximo do tomate, com 0,35%, que há poucos meses fez um estrago na meta de inflação da equipe econômica.
O feijão tem característica diferenciada em relação à maioria dos agrícolas, pois a lavoura pode ser refeita a cada três meses. Com uma melhora do clima, o estoque do produto pode ser refeito. No entanto, a consultora Ignez Guatimosim Vidigal Lopes, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas (FGV), ressalta que, ainda que o feijão pese sobre a inflação em um curto espaço de tempo, esse movimento seria suficiente para elevar o indicador a outro patamar e comprometer os planos do governo de controle dos preços.