O Rio Grande do Sul é referência no desenvolvimento de máquinas agrícolas para o sistema de plantio direto. Entre os motivos que explicam esse status, está o fato do Estado ter sido pioneiro, na década de 1970, com pesquisas na área, e uma década depois, por ter ocupado um espaço definitivo no setor industrial, com a liderança da Semeato, embora houvesse outras marcas envolvidas com o segmento.
- O Rio Grande do Sul é líder na produção de máquinas para o plantio direto, mas hoje, Paraná e São Paulo também têm grandes fabricantes e todos andam juntos no mercado e no desenvolvimento - afirma Ruy Casão Junior, pesquisador no Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), lembrando que o pioneirismo comercial do sistema de plantio direto é creditado aos paranaenses, com pesquisas em rotação de culturas, solos, plantas de cobertura, entre outras. A partir dos anos 1990, a adoção da técnica aumentou.
- Hoje, podemos dizer que estamos entre os líderes mundiais no assunto, com 35 milhões de hectares, segundo informações da Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha (FEBPDP) - acrescenta o pesquisador.
A demanda estimulou a produção das máquinas e a evolução tecnológica.
- Não devemos em nada para quem produz esse equipamento em outros países. As máquinas produzidas aqui estão na Itália, nos Estados Unidos, na Ásia, na Argentina e em alguns casos exibem tecnologia ainda melhor do que as que são usadas em solo brasileiro, porque precisam se adequar aos padrões internacionais - explica Renato Levien, professor do departamento de solo da Faculdade de Agronomia da UFRGS.
Não foi por acaso que o grupo multinacional CNH (Case New Holland) firmou recentemente uma parceria com a marca gaúcha Semeato, visando à troca de tecnologias. As máquinas para o sistema de plantio direto têm características próprias porque desempenham suas funções em solo sem preparo e coberto de palha. As partes mais importantes são as linhas, que fazem o corte da palhada. Além disso, precisam ajustar-se aos desníveis de solo e serem precisas na distribuição das sementes.
Para cada necessidade, uma tecnologia. Quando o plantio direto passou a atrair o interesse dos agricultores foi preciso desenvolver toda uma estrutura até então inexistente e os gaúchos tiveram papel importantíssimo.
A Semeato, por exemplo, se destacou ao lançar um kit disco de corte, em 1978, para ser adaptado nas semeadoras já fabricadas pela empresa. Essas máquinas ganharam o país, do Rio Grande do Sul até o Centro-Oeste, onde já estava iniciando o plantio de soja.
- Depois, a empresa lançou um modelo que já apresentava oito linhas para o plantio de soja, onde também era possível a adaptação do kit disco de corte. Até hoje existem máquinas trabalhando e utilizando este kit - afirma Eduardo Copetti, engenheiro agrônomo e gerente de desenvolvimento de mercado e produto da Semeato.
Ainda que as máquinas estrangeiras, inicialmente, tivessem servido de inspiração, a empresa gaúcha entendeu desde cedo que era preciso elaborar projetos específicos para o solo do Brasil, cujas condições variavam de região para região. Segundo o professor Levien, a empresa foi a primeira no Brasil a produzir uma máquina para plantio direto específica, não adaptada.
Claudio Bier, presidente do Simers, concorda que o desenvolvimento de tecnologias para máquinas de plantio direto alçou o Rio Grande do Sul para um outro patamar na indústria do segmento agrícola.
- Essa é uma das razões para o fato de que 65% das máquinas agrícolas brasileiras hoje serem gaúchas, nascidas aqui. O Estado hoje é berço da chamada tecnologia embarcada, pela qual se tem em tempo real as informações originadas do sistema de plantio direto enquanto a prática é executada - afirma.
A importância do sistema de plantio direto
Comprometido em reduzir as emissões de CO2 até o ano de 2020, o Brasil desenvolveu um Plano de Agricultura cujos objetivos e ações inclui ampliar o plantio direto com qualidade. O sistema melhora a qualidade do solo, aumenta a produtividade e protege o ambiente. Desde a década de 1970, quando o plantio direto crescia no país, a pesquisa agrícola já garantia que a técnica chegava a controlar mais do que cinco vezes as perdas de solo por erosão em relação ao convencional. Os principais fundamentos do plantio direto foram consolidados neste período, entre os quais, o revolvimento mínimo do solo, a cobertura permanente de palha ou plantas e a rotação de culturas com uso de plantas de cobertura.
- O plantio direto foi um avanço técnico porque antes o modo de produzir agredia o solo. Era insustentável a longo prazo. E o Rio Grande do Sul teve papel importante no desenvolvimento deste sistema - explica Luiz Fernando Coelho de Souza, professor da UFRGS e coordenador da comissão julgadora do prêmio Gerdau Melhores da Terra.
Teve e tem. A Expodireto Cotrijal, em Não-me-Toque, é referência internacional como evento voltado a tudo que envolve plantio direto. Este ano reuniu 185,5 mil pessoas, com visitantes e palestrantes de diversos países. O faturamento foi recorde de R$ 1,1 bilhão.