Especialistas em questões ambientais, lideranças do agronegócio e pesquisadores debateram os principais desafios do setor no Fórum Regional Abag, realizado na Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), em Porto Alegre. O evento teve a programação dividida em dois painéis, sendo o primeiro sobre inovação e o segundo focado na relação entre agricultura e meio ambiente. Na abertura do encontro, o vice-presidente da Farsul, Elmar Konrad, lembrou que no país, de forma geral, a responsabilidade por agressões ao meio ambiente sempre foi atribuída ao campo e que isso não é realidade:
– Se nós olharmos o percentual de área que o Brasil coloca em produção e o incremento que tem em pastagem para buscar ampliação produtiva, sem sequer derrubar mata, é bem menor do que qualquer país europeu. Esse tema é muito interessante para ser debatido e trazermos as verdadeiras informações para que a sociedade urbana, que nos penalizava, comece a perceber e analisar que o processo é mais complexo, limpo e sustentável do que se imaginava e foi dito.
Produzir mais com menos, manter o foco em inovação e gerar menos resíduos foram alguns dos desafios citados por Valter Brunner, diretor de Sustentabilidade da Syngenta para a América Latina, que participou da abertura do evento. Brunner destacou que o termo “sustentabilidade” ainda é passível de múltiplas interpretações:
– Nós vemos em todas as formas de comunicação muita informação e nem sempre a mensagem é a mais correta e consistente quando a temática é sustentabilidade. Por isso, o tema deste fórum é muito oportuno e nos permite alinhar o que de fato é importante para seguirmos em frente no que se refere à agricultura sustentável. Para a Syngenta, um aspecto essencial é a inovação, não à toa a empresa investe 10% de seu faturamento em pesquisas e desenvolvimento.
Inovação
Uma agropecuária mais tecnificada é importante não apenas para o mercado interno, mas sobre tudo para o país manter o superávit na balança comercial. O setor responde por quase 30% do PIB nacional, mas ainda assim é visto com ressalvas pelo público urbano, frequentemente carente de informação aprofundada e baseada em ciência. Temas como esses foram tratados no painel inicial do evento, sobre inovação, que teve a mediação da jornalista Cris Silva e contou com as participações de Ivan Bonetti, diretor de Política Agrícola da Secretaria de Agricultura do Rio Grande do Sul; José Denardin, pesquisador da Embrapa Trigo, de Passo Fundo; e Renan Hein dos Santos, assessor de Estudos Avançados de Inovação do Senar-RS.
Na opinião de Bonetti, o maior problema que o Estado enfrenta é o conservadorismo, tendo apontado que o gaúcho precisa inovar mais. Ao tratar de iniciativas lideradas pela Secretaria, Bonetti adiantou a criação da Câmara Temática do Mercosul e Comércio Exterior, que deve ser lançada na Expointer, e a elaboração do aplicativo de monitoramento das culturas com base de dados do RS, compartilhada com o agricultor.
Como estratégias futuras para superar os desafios, o pesquisador da Embrapa Trigo, de Passo Fundo, José Denardin, destacou que é necessário estabelecer referências no campo, viabilizar ações que permitam a tecnologia disponibilizada ser percebida de forma integrada no sistema e não isolada, além de propiciar meios para o manejo da tecnologia e promover a percepção de que o fator humano determina o sucesso. Para Denardin, quando se fala em inovação, o maior problema fica por conta da falta de operacionalidade no Rio Grande do Sul:
– Para que a adoção de uma nova tecnologia seja um processo efetivo é necessário aprofundar conhecimentos com foco em seu manejo, explorando competências e habilidade. É isso que falta para os nossos técnicos, falta formação para lidar com as tecnologias que têm surgido.
Sustentabilidade
No painel seguinte participaram Nestor Bonfanti, vice-presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS); a engenheira florestal Marjorie Kauffmann, presidente da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), vinculada à Secretaria de Meio Ambiente do Rio Grande do Sul; e Pedro Selbach, professor da UFRGS. A mediação deste debate ficou por conta de Luiz Cornacchionni, diretor executivo da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag). Cornacchioni ressaltou a importância de eventos regionais como esse para se aproximar com a realidade local, assim como o mundo agro do urbano:
– Nós alcançamos essa produção do agronegócio brasileiro, pujante, por meio da inovação. Para nós, discutir a relação entre inovação, meio ambiente e sustentabilidade, no momento atual e considerando a demanda do novo ciclo que temos à frente é fundamental.
Em sua exposição, Marjorie afirmou que a Fepam está repensando toda a estrutura da área ambiental, de modo a seguir um fluxo adequado, mas que não represente uma barreira para ajudar a construir o desenvolvimento do Estado. Para finalizar, Selbach fez um panorama da evolução da agricultura no Brasil e listou alguns desafios para os próximos anos, entre eles o uso e desperdício de alimento e água e as mudanças climáticas nos trópicos.
Uma das principais conclusões do evento foi a de que inovação precede o uso adequado de tecnologias, que por sua vez contribui diretamente para o avanço da agricultura sustentável, esta que tem como premissa básica a saudável coexistência com o meio ambiente.
O Fórum foi uma realização da Abag, com o patrocínio da Syngenta, e teve o apoio de Farsul, Sargs, Fetag-RS e Sindiveg.