Um grupo de oito orcas foi visto nas águas próximas à desembocadura da Barra do Rio Tramandaí, no Litoral Norte do RS. O avistamento incomum surpreendeu os pesquisadores que monitoravam a localidade.
Apesar de as orcas serem vistas esporadicamente na região, encontrar um grupo deste tamanho é um evento raro. Segundo Ignacio Benites Moreno, professor responsável pelo projeto Botos da Barra, do Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o avistamento de número elevado dos animais sugere que estejam patrulhando em busca de comida.
— Ficamos bastante surpresos. Inicialmente, nem acreditamos que fossem orcas. Foi um evento muito legal e incomum. Ver oito indivíduos, que eram compostos por fêmeas e juvenis, tão próximos da barra, é inédito — comentou.
Alimentação e hábitos
Os animais possuem uma dieta diversificada, que inclui peixes, tartarugas e outros golfinhos menores, como as toninhas. Comuns em águas mais frias, as orcas são conhecidas pela capacidade de predação sobre outras espécies de golfinhos, que são parentes do boto-de-iahille, presente na região.
— Já foram identificadas orcas com toninhas no estômago por aqui, o que pode indicar que elas vieram para se alimentar de espécies menores e mais vulneráveis — explica Moreno.
Pesca cooperativa
Apesar de comuns na Barra, durante o avistamento das orcas, não havia botos na região. Após o monitoramento de uma área de 10 quilômetros ao norte e ao sul do local, pesquisadores notaram que os botos só voltaram a ser vistos após o grupo de orcas seguir viagem.
— Pescadores de Tramandaí trabalham em parceria com os botos, que conduzem cardumes para as margens e sinalizam o momento de lançar as redes. A colaboração aumenta o rendimento da pesca para ambos os lados — afirma o coordenador.
Segundo Moreno, os botos-de-lahille são essenciais para a pesca cooperativa com pescadores locais, prática centenária e rara no mundo.
A maior população gaúcha do boto-de-Lahille está presente na Lagoa dos Patos, em Rio Grande, com cerca de 90 indivíduos. No RS, estão incluídos na Lista das Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção desde 2014.
Inofensivas a humanos
As orcas, ou Orcinus orca, são cetáceos da família dos golfinhos e não apresentam ameaça direta a humanos. Os mamíferos são conhecidos pela inteligência e habilidades de comunicação, com grupos organizados em família que podem desenvolver até sotaques regionais.
Sendo as maiores da família dos golfinhos, elas podem medir até 9,8 metros e pesar até 10 toneladas. Embora mais comuns em águas frias, elas são avistadas ocasionalmente na costa gaúcha.
— Ver as orcas é uma questão de sorte. Não estamos sempre no mar com uma embarcação monitorando. Portanto, esse avistamento foi um grande privilégio e uma oportunidade de pesquisa, que pode indicar novas informações sobre os padrões de ocorrência e exploração dessa espécie no nosso litoral. Porém, o que de fato trouxe eles aqui para a perto da costa, na boca da Barra, é uma incógnita — conclui o pesquisador.
*Produção: Murilo Rodrigues