Moradores de Imbé e Tramandaí, no Litoral Norte, realizaram um protesto na manhã deste sábado (31) contra a construção de uma tubulação que levará efluentes desde a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) II, em Xangri-Lá, até o ponto de descarte final da rede, na bacia do Rio Tramandaí. O grupo se reuniu nos dois lados da ponte Giuseppe Garibaldi, que liga os municípios.
A obra, que começou neste ano, é alvo de contestações de moradores e políticos da região. Em audiência pública na Câmara de Vereadores de Imbé neste mês, a população reclamou da falta de discussão sobre a viabilidade ambiental da obra. A Corsan afirma que a obra vai beneficiar Xangri-Lá e Capão da Canoa e que todo esgoto será tratado com 95% de eficiência.
No entanto, pesquisadores do Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar), órgão ligado à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), apontam que substâncias que não são removidas durante o tratamento, como produtos farmacêuticos e de higiene pessoal, medicamentos, inseticidas, pesticidas, microplásticos, metais pesados, entre outras descartadas por residências, comércios e indústrias podem contaminar o rio e afetar a pesca cooperativa entre botos e pescadores.
"Quaisquer iniciativas práticas para contornar esses problemas não podem ser executadas antes de uma avaliação criteriosa dos seus impactos socioambientais, pois a solução de um problema para os municípios de Xangri-lá e Capão da Canoa não pode gerar um impacto em outros municípios" cita trecho do manifesto.
Na próxima semana, o Ministério Público Federal vai mediar uma reunião entre as prefeituras, Aegea e Corsan. O prefeito de Tramandaí, Luiz Carlos Gauto da Silva, que estava presente na manifestação, afirma que vai pedir a suspensão das obras.
— Nós não fomos em nenhum momento consultados pela Aegea, Corsan, que esse emissário pudesse ser lançado no rio. A coisa aconteceu quase que na surdina. Os dois municípios (Tramandaí e Imbé) não participaram de audiência e o licenciamento foi de uma rapidez. Mesmo dizendo que vai ter 95% de tratamento, nós temos características que podem impactar o meio ambiente, a pesca, inclusive o boto que é uma referência no Brasil — disse o prefeito, que admite a possibilidade de judicializar a questão caso a obra não seja suspensa.
O que diz a Corsan
"A Corsan esclarece que o esgoto que levará para lançamento no final da rede, no rio Tramandaí, estará 100% tratado. Os efluentes serão transportados a partir da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) II, com eficiência acima de 95%, com parâmetros de tratamento mais rigorosos que a normas estaduais e federais"