O vento que sopra no Rio Grande do Sul, atualmente com componentes de sul, deve mudar de direção no domingo (5), deixando de atrapalhar o escoamento do Guaíba, cujo nível já ultrapassou os quatro metros e pode chegar em cinco metros ainda nesta sexta-feira (3). Segundo os especialistas, a mudança de sentido das rajadas pode ajudar a acelerar o fluxo da água.
— Estamos com um vento que vem do oceano para o continente, um vento leste ou sudeste. O vento nesse sentido empurra a água da Lagoa dos Patos em direção ao continente. Assim, o Guaíba não consegue seguir o curso natural, que é entrar na Lagoa dos Patos e ir para o oceano, saindo pelo porto de Rio Grande — explica Henrique Repinaldo, meteorologista do Centro de Pesquisas e Previsões Meteorológicas da Universidade Federal de Pelotas (CPPMet/UFPel).
De acordo com o meteorologista, a água até consegue percorrer o trajeto necessário, mas de uma forma muito lenta, o que não ajuda a escoar o volume represado. Contudo, a culpa da situação atual dos níveis no Guaíba não está na conta do vento. A direção das rajadas é vista como um fator adicional.
— O vento pode ser considerado a cereja no bolo. Se ocorrer, ele vai aumentar o nível em alguns centímetros, até meio metro, se for forte e persistente. Mas se não ocorrer vento nenhum ainda podemos ter uma cheia significativa. Foi o que aconteceu em novembro de 2023 também, não tivemos vento, mas tivemos valores extremos — pontua Fernando Fan, professor e pesquisador do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
É difícil precisar, mas a estimativa é de que o vento sudeste tenha entrado com a frente fria que se deslocou na quinta-feira (2). A partir de domingo, esse sistema se enfraquece, permitindo o ingresso de vento com componentes de norte, como é chamado. A previsão é que as rajadas venham da direção norte ou nordeste.
Repinaldo prevê, porém, que as rajadas sejam fracas. Ou seja, a intensidade do vento vindo de nordeste não deve ser forte o suficiente para representar uma melhora significativa no escoamento do Guaíba e da Lagoa dos Patos. O vento deve deixar de atrapalhar o curso natural da água, mas para reduzir o volume mesmo, é necessário que o Jacuí baixe e que a chuva diminua.
— Entre sexta-feira e sábado (4) deve seguir esse vento mais prejudicial. Nos outros dias, a partir de domingo, muda o sentido e a água pode ir escoando mais rápido. A situação melhora para a Capital, mas piora para os municípios da ponta sul do Estado, como Pelotas e Rio Grande, já que a água deve descer com mais velocidade — alerta o meteorologista.
Para os outros rios que também atingiram níveis históricos, como o Jacuí, o Taquari, o Gravataí e o dos Sinos, por exemplo, a mudança no sentido do vento não tem um papel importante. Repinaldo explica que a direção afeta no escoamento final, uma vez que essas regiões têm mais topografia e, portanto, o vento não tem tanta ação determinante.
*Produção: Yasmim Girardi