No próximo dia 2 de fevereiro, considerado o Dia Mundial das Áreas Úmidas, o decreto que oficializa a criação do Parque Natural Municipal da Barra do Rio Grande, no sul do Estado, finalmente será assinado. O projeto estabelece como Unidade de Conservação (UC) uma área de 439,66 hectares, localizada na Praia do Cassino, formada por diferentes ecossistemas. Os principais benefícios da iniciativa estão ligados à preservação da biodiversidade local.
Transformar esse mosaico de ecossistemas em Unidade de Conservação de proteção integral significa preservar a área, sem permitir a realização de atividades que possam comprometer a integridade ecológica do espaço. Segundo o Sistema Estadual de Unidades de Conservação (SEUC) do Rio Grande do Sul, existem, atualmente, 24 Unidades de Conservação cadastradas.
— A ideia é manter esse reservatório de biodiversidade íntegro. Os serviços desses ecossistemas naturais incluem a drenagem urbana, filtragem de água e captação e estoque de carbono. Tudo isso ajuda na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas — explica o biólogo e secretário de Meio Ambiente do Rio Grande, Pedro Fruet.
A área do Parque é desde o final do Loteamento ABC X até a região dos Molhes da Barra, incluindo uma pequena porção do estuário da Lagoa dos Patos. Dentro desse espaço, segundo a bióloga e diretora do Núcleo de Educação e Monitoramento Ambiental (Nema), Maria Carolina Contato Weigert, é possível encontrar ecossistemas como dunas costeiras, campos, capinzais, banhados, marismas, águas rasas estuarinas e planos lamosos intermareais, que são aquelas áreas de transição onde há lodo.
— O mosaico pode ser entendido como se fosse um quebra-cabeça no qual cada peça é um ecossistema diferente. E o parque é o quadro onde essas peças se juntam. Apesar de ser relativamente pequeno em espaço, tem grande heterogeneidade ecológica. É muito representativo — afirma Maria Carolina.
O Parque Barra do Rio Grande conta com centenas de espécies de fauna e flora diferentes. Entre elas, a bióloga destaca 18 espécies ameaças de extinção, como o tuco-tuco das dunas, o gato-do-mato e a lontra, por exemplo. Há, ainda, outras 18 espécies que não estão ameaçadas de extinção, mas são categorizadas como quase ameaçadas, consideradas objetos de preocupação. Assim, tornar a área em UC garantiria a preservação de espécies importantes para o meio ambiente.
— Não é só uma área de preservação, mas também um espaço para a manutenção do Balneário Cassino e da nossa saúde ambiental — pontua a bióloga.
Longo processo
Criar esse parque é uma vontade antiga da comunidade rio-grandina. De acordo com Fruet, o tema é debatido há mais de 15 anos. Contudo, foi somente em 2020 que o Núcleo de Educação e Monitoramento Ambiental (Nema) começou a realizar pesquisas sobre a biodiversidade ecológica da área, possibilitando o surgimento da proposta de criação do Parque.
— Finalmente estamos conseguindo formalizar algo que já era vontade da comunidade. O processo foi longo. Encomendamos estudos, fizemos um novo desenho em cima da proposta que já existia, realizamos consultas públicas e reuniões com diversos setores da comunidade. E foi surpreendente, porque tivemos apoios de todos — relata Fruet.
Segundo o secretário, o projeto é benéfico para o meio ambiente, para a comunidade e, inclusive, para os empresários. Do lado econômico, Fruet destaca a valorização imobiliária, uma vez que fica garantido que não haverá intervenções no local. Para a população e o meio ambiente, os benefícios vão desde paisagens bonitas até propiciar um ar mais puro e uma gestão sustentável da água na cidade.
A partir da assinatura do decreto, começa o processo de gestão da área. Fruet afirma que um departamento de Unidades de Conservação deverá ser criado dentro da Secretaria de Meio Ambiente do Rio Grande, para cuidar dessas áreas. A tipologia de UC de proteção integral também permite projetos de visitação, pesquisa científica e educação ambiental. De acordo com o secretário, oferecer essas possibilidades também está nos planos, porém em longo prazo.
*Produção: Yasmim Girardi