O governo do Rio Grande do Sul está com 40% das suas estações hidrometeorológicas — que monitoram a quantidade de chuva e o nível dos rios — fora de operação. A informação foi confirmada à RBS TV pela secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema). Das 175 estações do governo do RS, 70 não estão operando.
— Como em todos os equipamentos, a gente tem momentos de falha, de substituição de peças. Sempre vai ter estações em revisão e em manutenção — alega a secretária do Meio Ambiente e Infraestrutura, Marjorie Kauffmann.
De acordo com Gean Paulo Michel, professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o número reduzido de estações prejudica a precisão das informações sobre as cheias:
— Nós temos que pensar em colocar em operação toda essa estrutura já existente e complementar colocando mais estações nos pontos onde percebemos que não existe densidade de monitoramento. Isso é importante para que o sistema de alerta funcione corretamente.
Há problemas também com a infraestrutura federal. No site da Sala de Situação da Sema consta, há quase uma semana, que as estações da Agência Nacional de Águas estão sem funcionar.
Em Gravataí, na região metropolitana de Porto Alegre, uma estação da Agência Nacional de Águas passou dois dias fora de operação. Com isso, só é possível verificar o nível do rio por meio da régua, mas a cheia inviabilizou a medição.
A RBSTV entrou em contato com a Agência Nacional de Águas, mas não obteve retorno até a veiculação da reportagem.
Prevenção de desastres
Após a passagem do Furacão Catarina, em 2004, e dos deslizamentos de terra que mataram quase 200 pessoas em 2008, Santa Catarina passou a investir na prevenção a desastres. O Estado conta com quatro radares exclusivos para previsão do tempo. São 160 servidores atuando na Defesa Civil, quase o triplo do RS.
Em Blumenau, uma das cidades mais atingidas à época, foi criada uma secretaria de Defesa Civil. Também foi desenvolvido um aplicativo que fornece informações para os moradores.
Há exemplos também no RS. Gravataí conta com um técnico de Defesa Civil que é concursado e atua na área há quase 15 anos. Ele recebe o apoio de 200 agentes da Guarda Municipal.
— O evento adverso vai ocorrer até com mais dificuldade e a gente sabe disso. Mas a gente pode diminuir. A gente não pode parar o vento ou a chuva, mas pode diminuir consideravelmente o dano para a população — pontua o coordenador da Defesa Civil de Gravataí, Paulo Roberto Almeida.
A tendência é que fenômenos como os dos últimos meses se repitam com mais frequência. Em um trimestre, foram nove ocorrências de ciclones extratropicais no RS ou em áreas próximas ao Estado. Para reduzir danos, especialistas entendem que é urgente capacitar pessoas, ter previsões mais precisas e, também, providenciar um trabalho de educação com moradores de áreas de risco.
— Uma coisa importante seria o fortalecimento das instituições. E a questão do trabalho com a população. O ideal seria que todo cidadão compreendesse muito bem a que tipo de perigo ele está exposto. E se um desastre acontecer, ele saber exatamente como agir, onde ir, quando tempo ele tem pra agir — avalia Rodrigo Paiva, também professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS.