O ciclone extratropical que atinge o Rio Grande do Sul na metade desta semana é mais forte do que o fenômeno do último fim de semana, segundo meteorologistas ouvidos por GZH. Nesta quarta-feira (12), predomina a chuva intensa e, na madrugada e ao longo da quinta-feira (13), rajadas de vento com até 100 km/h.
A zona de baixa pressão que caracteriza o mau tempo atual se formou entre a província de Corrientes, na Argentina, e o sul do Paraguai — e agora transita em solo gaúcho.
Nesta quarta-feira, o sistema de baixa pressão adentrou o norte e o noroeste do Rio Grande do Sul. O fenômeno atravessa a Região Central com trajetória em direção ao sul e sudeste do Estado.
No meio da tarde desta quarta-feira, o sistema de baixa pressão atingiu Fronteira Oeste e Região Central. No início da noite, chegou a Planalto, Serra e Região Metropolitana — na sequência, litorais Sul e Norte. Na manhã de quinta-feira, adentra o oceano Atlântico.
— Geralmente, a abrangência de um ciclone é de 100km a 500 km de extensão. O núcleo costuma ter de 50km a 100km de raio. Onde passa o centro do ciclone e nos seus arredores é onde tem mais chuva. O vento é mais forte nas bordas. Por isso, o vento será mais forte na quinta, já que ele estará no oceano — diz o Marcelo Schneider, meteorologista do Instituto Nacional de Metereologia (Inmet).
O Inmet emitiu alerta vermelho para os possíveis riscos gerados no Estado. O aviso vigora entre meio-dia desta quarta-feira e 10h de quinta-feira. Entram, na zona vermelha de alto risco, as regiões Sudoeste, Serra, Noroeste, Central, Litorais Sul e Norte, Metropolitana de Porto Alegre, Sudeste, Nordeste e quase toda a Metade Sul.
De acordo com o Inmet, há previsão de 60mm a 100mm de chuva, a depender da região — ou seja, de metade a 80% da média de precipitação para o mês de junho no Rio Grande do Sul. Em Porto Alegre, por exemplo, a média de chuva para o mês é de 120,4mm.
— Temos risco de alagamento ao longo das próximas horas e ao longo das próximos dias, dependendo da região. Grande parte do Estado deve ter risco de alagamento — diz a meteorologista Cátia Valente, da Climatempo.
Há potencial para queda de granizo e rajadas de vento superiores a 100 km/h. Segundo o Inmet, o risco é de "danos em edificações, corte de energia elétrica, estragos em plantações, queda de árvores, alagamentos e transtornos no transporte rodoviário". Está prevista ressaca com ondas de 4,5m de altura em toda costa gaúcha.
— Todo o Estado deverá ser atingido. Será praticamente a chuva do mês em dois dias. Deve chover mais no Noroeste, no Centro, na Região Metropolitana, na Serra e na Zona Sul, entre Pelotas e São Lourenço do Sul. A região mais no Extremo Sul, apesar de ter bastante vento, deverá ter menos chuva. O que causa mais preocupação é no norte do Estado, onde os rios estão carregados e chove há bastante tempo — diz Henrique Repinaldo, meteorologista e pesquisador na Universidade Federal de Pelotas (UFPel).
As rajadas de vento mais fortes deverão ser registradas na madrugada e manhã de quinta-feira, quando o ciclone propriamente se forma — antes, o que age são zonas gigantes de chuva. É na manhã de quinta-feira que o ciclone chega ao oceano. Nas bordas, vale lembrar, é que as rajadas de vento são mais perigosas.
Especialistas ouvidos por GZH afirmam, todavia, que o ciclone atual deverá afetar o Estado de forma diferente do fenômeno de junho, quando 16 pessoas morreram no Estado. Por se deslocar mais, o fenômeno de agora deve "sobrecarregar" por menos tempo qualquer região em específico.
— Pela previsão de chuva e ventos, pode provocar muita queda de árvore e queda de energia elétrica, principalmente no Litoral. Tem também risco de alagamento. Mas agora o ciclone será muito mais abrangente. Em vez de o ciclone ficar estacionado algumas horas em alguma região, como em junho, desta vez ele se desloca, mas leva chuva e vento.
Após a saída do ciclone, a previsão é de sexta-feira (14) nebulosa e fim de semana seco, com baixas temperaturas. Há chance pequena de neve na região de São José dos Ausentes na madrugada de sexta-feira, segundo Schneider, do Inmet. No sábado (15), pode haver geada no Planalto e na Serra.
O que são ciclones extratropicais?
São fenômenos de movimentação dos ventos comuns no Rio Grande do Sul, sobretudo no outono e inverno. Ciclones aparecem mais quando as temperaturas estão mais altas — e, este inverno gaúcho, por influência do El Niño, está mais quente do que o normal. Em suma, o ar quente é mais "leve", portanto sobe mais facilmente para atmosfera. Esse ar quente e "leve", ao ascender, deixa um espaço "vazio" próximo à superfície, o que puxa o ar que está ao redor, como a água é puxada no ralo da pia. Como não há para onde este novo ar ir (não há "ralo" na superfície), o "novo vento" ascende. Durante o período que o ar se desloca para ocupar o espaço vazio, a rotação da Terra provoca o movimento circular típico de um ciclone.
Por que este ciclone preocupa mais?
Normalmente, ciclones se formam no oceano e se deslocam a Leste, para longe da costa — portanto, afetam de forma periférica o Estado. Mas este ciclone e o de junho, no qual morreram 16 pessoas no Rio Grande do Sul, são diferentes: nasceram no continente para então se deslocarem em direção ao oceano. Por isso, atuam durante mais tempo e com mais força em regiões onde vivem pessoas.