Após terem sido encontradas em diferentes bacias hidrográficas do Rio Grande do Sul, as palometas (Serrasalmus maculatus), uma espécie de piranha gaúcha, agora foram avistadas junto ao Pontal do Estaleiro, em Porto Alegre. Desde o final do mês de abril, os relatos têm se espalhado pelas redes sociais, com fotos e vídeos dos peixes. A maior parte dos registros foi feita por pescadores.
Segundo o professor Fernando Becker, do Instituto de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a chegada das palometas ao Guaíba, na Capital, era questão de tempo, pois já haviam sido avistadas na região da Barra do Ribeiro.
— Já há vários relatos dela pela região. Agora, há um risco muito grande delas seguirem para as lagoas do Litoral Norte — avalia o professor.
A situação de risco em áreas costeiras também é levantada pelo professor da Escola de Ciências da Saúde e da Vida da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Roberto Reis, que já encontrou palometas ao passar de barco próximo da Ilha das Pedras Brancas, entre Porto Alegre e Guaíba.
— Em breve, ela pode se espalhar muito no Guaíba e acabar dominando a região. Se elas seguirem para as lagoas costeiras, será ainda pior. Medidas precisam ser tomadas para evitar isso — avalia Reis
Além do Guaíba, a palometa já foi encontrada em regiões da Bacia do Jacuí e Lagoa dos Patos. Essa espécie é considerada exótica, ou seja, não é natural dessas águas, mas oriunda da Bacia do Rio Uruguai. A principal causa apontada por especialistas para a migração a outras regiões é a drenagem em canais de irrigação de lavouras que retiram a água de uma bacia e desaguam em outra.
Ainda conforme Becker, os prejuízos da proliferação da palometa podem aparecer em diferentes aspectos. O primeiro seria na pesca, em que elas danificam as redes e mordem os peixes aprisionados, que ficam impróprios para comercialização. Isso aumenta o custo e diminui o rendimento para os pescadores, que gastam com material, combustível e tempo, com um aproveitamento menor do pescado.
O segundo problema seria afetar a abundância de outros peixes nos rios e lagoas, com risco de extinções de espécies locais. E um terceiro risco seria a chegada ao Litoral Norte.
— As lagoas do Litoral são muito usadas turisticamente, e as palometas podem diminuir esse interesse pelo risco das pessoas serem mordidas ao pescar e se banhar. Não são ataques como aqueles que aparecem em filmes, mas uma mordida pode ser bem dolorosa — explica o professor.
Questionada pela reportagem de GZH, a assessoria de comunicação do Ibama informou que não possui registros oficiais na entidade, mas admitiu que a presença das palometas no Guaíba já é tratada como fato.
No ano passado, a Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr) informou que estava articulando com o Ibama e a Emater para ter uma coordenação multidisciplinar em que cada órgão, dentro de suas competências, trabalhasse para a adoção de medidas que amenizem o problema. No entanto, o Ibama informou que segue trabalhando nessa ação conjunta, mas que o monitoramento da espécie no Guaíba não está sendo alvo no momento.