Painéis solares em um centro comunitário da periferia de Porto Alegre: este é o projeto vencedor na Região Sul do Descarbonário 2023. O prêmio é oferecido no Brasil pela Ong internacional The Climate Reality Project, fundada em 2006 por Al Gore, ex-vice-presidente americano e ativista ambiental.
Batizado de Young Energy, o projeto foi uma ideia do também ativista e engenheiro ambiental John Fernando de Farias Wurdig, 38 anos. Em 2019, ele teve a ideia de instalar painéis solares no teto de um dos prédios do Centro Comunitário da Vila Orfanotrófio 1, o Cencor, no bairro Santa Tereza, zona sul da Capital, que atende a cerca de 320 crianças e adolescentes no contraturno escolar e também na Creche Boa Esperança, a maioria em situação de vulnerabilidade social. Contou também com a parceria de Yuri Silva, 16, outro ativista ambiental.
Na época, os dois prédios do Cencor geravam, em média, R$ 3 mil em contas de luz por mês, algo excessivo para um centro comunitário conveniado com a prefeitura e que precisa de doações para se manter.
— Criei esse projeto e consegui uma empresa para patrocinar as placas solares. Tentamos financiamento coletivo, mas não fomos felizes. Pedimos ajuda para empresas e conseguimos uma parceria com uma especificamente, a Yes Energia Solar. O diretor do centro super topou — conta Wurdig, que também é um líder da realidade climática, titulação conferida pela Climate para quem se forma em cursos sobre mudanças climáticas com Al Gore.
O diretor voluntário do Cencor, Carlos Alberto Fagundes de Oliveira, 52, não sabia se a ideia de Wurdig daria certo, mas aceitou. Hoje, a conta de luz da instituição, levando em consideração os dois prédios, não passa dos R$ 1.500, uma economia de 50% graças aos painéis solares.
— No começo, não acreditei muito que um painel em cima do telhado ia gerar economia de luz. Nunca tinha visto painel solar, ainda mais na periferia, mas deu certo — diz.
Com o dinheiro que passou a ser poupado, foi possível investir em melhorias para o Cencor. Foram comprados cinco aparelhos de ar-condicionado para a creche, conferindo mais conforto para as crianças de quatro meses a seis anos que são atendidas ali. Também começou a sobrar mais recursos para alimentação e material pedagógico.
Segundo Oliveira, sem os painéis solares sequer seria possível manter aparelhos de ar-condicionado ligados.
— Se botássemos ar-condicionado gastando R$ 3 mil por mês com a luz, imagina quanto ficaria a conta. São aparelhos que consomem bastante energia — reflete o diretor.
Embora a questão econômica tenha sido a principal vantagem para o Cencor, os painéis solares também têm o benefício de gerar menor impacto ambiental, observa Wurdig.
— As placas têm baixa emissão de gases de efeito estufa, é algo sustentável, que dá autonomia na geração de energia. Também é possível levar essas placas para lugares distantes. Para mim, inovação é levar tecnologia e melhorias para as comunidades. Deixar um legado, e nós deixamos — diz.
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O Young Energy foi o vencedor entre 11 concorrentes da Região Sul, considerando os Estados de Santa Catarina e Paraná. Mas o Descarbonário também reconheceu os melhores projetos em cada uma dessas quatro regiões: Centro-Oeste, Sudeste, Norte e Nordeste. Somente líderes da realidade climática formados pela Ong podem participar da premiação. Esta foi a terceira edição do evento, criado em 2021.
Segundo a coordenadora do Climate Reality Project Brasil, Julia Caon Froeder, a Ong está representada em 190 países e tem 45 mil voluntários espalhados pelo mundo, todos eles treinados por Al Gore e chamados de líderes da realidade climática, como Wurdig e Yuri Silva. Aqui no país, a The Climate Reality Project Brasil faz parte do Centro Brasil no Clima (CBC).
Para a ativista ambiental, ideias como o Young Energy mostram que a sustentabilidade também pode chegar às regiões mais carentes.
— Esse projeto mostra o desafio de investir em uma matriz energética renovável, junto com outro cuidado muito grande de levar justiça climática para todo mundo. Eles estão gerando energia fotovoltaica e, ao mesmo tempo, conseguindo investir o dinheiro que estariam gastando em benefícios para a comunidade. A busca pela justiça climática significa proteger os mais vulneráveis, que não contribuíram tanto com essa crise climática — diz.