A aprovação do Projeto Willow, validada em 13 de março pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, visa a exploração intensa de petróleo e gás natural no norte do Alasca. A decisão sofre uma forte pressão de grupos de ativistas ambientais, devido ao seu iminente impacto sobre a vida selvagem e o clima da Terra.
O que é o projeto Willow?
O Projeto Willow é um programa de investimentos voltados à Reserva Nacional de Petróleo (NPR-A), em terras estatais do Alasca. Arquitetado pela refinaria norte-americana ConocoPhillips, que opera na região desde o final da década de 1990, a proposta da companhia prevê uma produção de até 180 mil barris de petróleo por dia, com uma aplicação de US$ 8 bilhões (atualmente R$ 41,9 bilhões na cotação atual).
Inicialmente, a companhia solicitou cinco áreas petrolíferas para realizar as perfurações, porém, este número foi reduzido para três. Essa diminuição ocorre como uma tentativa de compensação para agradar aos opositores da ideia, mas não foi bem recebida.
Esses locais de perfuração têm até 199 poços no total a serem explorados. Eles estão dentro do vasto território da NPR-A, que conta com uma extensão de aproximadamente 94 mil quilômetros quadrados.
A corporação responsável alega que a medida contribuirá com milhares de empregos e potencializará a independência energética do país.
Por que a polêmica em torno do projeto Willow?
Os defensores da causa climática repercutem negativamente a decisão de Biden em aprovar o projeto Willow, alegando que não há consistência nas promessas do presidente quanto ao combate a emissão de carbono, consequentemente ao desmatamento, na preservação da vida selvagem e no clima do planeta.
Em 2021, Biden garantiu que iria reduzir em 50% as emissões de gases do efeito estufa em território norte-americano em relação aos níveis de 2005. A meta é alcançar este objetivo até 2030. Esses passos colocariam, em tese, o país em um nível zero de emissão até 2050. Antes, quando ainda era candidato à presidência, o democrata também prometeu que não ocorreriam mais perfurações em terras federais.
Após forte pressão institucional, o projeto Willow cresceu e, a partir de sua aprovação, passou a desafiar Biden a suportar pressões de ambos os lados na discussão. As eleições presidenciais em 2024 também são consideradas cruciais diante de debates como o ambiental e sobre os preços dos combustíveis no país.
Uma petição enviada à Casa Branca reuniu mais de três milhões de assinaturas, contrariando o intuito do projeto incentivado pela ConocoPhillips. O receio quanto aos desastres naturais iminentes por conta da produção petrolífera acendeu um alerta entre os ativistas ambientais.
— É a decisão errada e será um desastre para a vida selvagem, as terras, as comunidades e para o nosso clima — alerta a organização ambiental Sierra Club.
Em contraponto, a Casa Branca comunicou que "o fim da exploração offshore (operações executadas em territórios afastados ao de origem, como por exemplo, em alto mar) assegura que importantes habitats de baleias, focas, leões-marinhos, ursos polares e outras espécies serão protegidas em perpetuidade do desenvolvimento extrativista". Entretanto, essa mensagem foi motivo de decepção para os ambientalistas, que cada vez mais estão mais apreensivos em relação as decisões envolvendo preservação.
Exploração de petróleo no Alasca
Em meados do século 20, petroleiras norte-americanas encontraram grandes reservas no norte do Alasca, transformando a região em uma enorme fonte econômica. A remota região de North Slope, no extremo norte do Estado, é o principal ponto para a exploração atualmente. Ao oeste deste condado, está justamente a Reserva Nacional de Petróleo, que recebe o investimento da ConocoPhillips.
O Projeto Willow traz, justamente, uma maior prospecção de petróleo das últimas décadas na região e, pela intensidade da produção, o receio de ativistas quanto ao desastre ambiental por conta da exploração cresceu na mesma proporção.
O diretor-executivo de ConocoPhillips, Ryan Lance, disse que a medida foi a "decisão correta para o Alasca e nossa nação", mas recebeu críticas imediatas dos grupos ambientalistas.
Críticas dos ambientalistas
— Willow vai ser uma das maiores operações de petróleo e gás em terras públicas federais do país. A contaminação de carbono que vai liberar no ar terá efeitos devastadores na nossa gente, na vida silvestre e no clima. Vamos sofrer as consequências nas próximas décadas — comunicou a Sierra Club, uma das principais organizações sem fins lucrativos dos Estados Unidos.
Abigail Dillen, presidente da organização Earthjustice, fortemente ativa na pauta de direito ambiental e interesse público, alertou que o estágio climático da Terra não suportará uma intervenção deste tamanho:
— Chegamos tarde demais à crise climática para aprovar projetos maciços de petróleo e gás que afetam diretamente a nova economia limpa que a administração Biden se comprometeu a promover.
A advogada da organização Centro para a Diversidade Biológica, Kristen Monsell, disse à imprensa que "proteger uma área do Ártico para destruir outra não tem sentido e não irá ajudar as pessoas e a vida selvagem, que serão prejudicadas pelo projeto Willow”.
Especialistas estimam que cerca de 576 barris de petróleo podem ser produzidos nos próximos 30 anos. A queima de óleo durante esse período colocaria cerca de 239 milhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera.
O que diz o relatório do IPCC?
O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) é uma grande organização mundial, que promove o conhecimento científico sobre as alterações no estado do clima do planeta. Segundo os relatórios do grupo, ainda há tempo de lutar contra as mudanças climáticas. Porém, enquanto se necessita agir de forma rápida, a indústria caminha em direções opostas, e os problemas ambientais se desenvolvem cada mais mais rápido.
Pontos para entender o projeto Willow
- Joe Biden aprova o projeto Willow em 13 de março e cria um intenso debate sobre mudança climática
- O projeto é de responsabilidade da ConocoPhillips, maior produtora de petróleo do Alasca, desenvolvendo o combustível na região desde o final da década de 1990
- Três locais de perfuração com até 199 poços serão explorados na área da Reserva Nacional de Petróleo do Alasca
- A extensão do território é equivalente a 94,7 mil quilômetros quadrados
- A proposta prevê uma produção bilionária de até 180 mil barris de petróleo por dia;
- Especialistas estimam que cerca de 576 milhões de barris de petróleo podem ser produzidos nos próximos 30 anos
- A queima de óleo durante as três próximas décadas colocaria cerca de 239 milhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera
- Willow é o projeto de maior prospecção de petróleo nos EUA e tem potencial para se tornar um dos maiores campos de extração quando estiver 100% desenvolvido
*Produção: Nikolas Mondadori